Um mundo sem animais criados para consumo

Pintura: Hartmut Kiewert

Pegou a estrada e, como sempre, ficou extasiado com a ausência de grandes pastagens. No mesmo lugar há plantações de leguminosas, oleaginosas e cereais. Ah, e outros vegetais antes nunca cultivados em espaços dominados por monoculturas. Imaginou que parte das gerações anteriores teriam ficado felizes com o novo cenário.

“Como são belas as plantações de hoje! Formam cores tão diversas em um pequeno trajeto. Como enchem os olhos! Sem cheiro de veneno, sem maturação forçada, e ainda assim é como se quisessem se desenvolver o mais rápido possível. E pensar que muita gente percorreu tantos quilômetros dominados por pastagens e lavouras dedicadas a alimentar apenas animais criados para consumo. Que mundo estranho já foi este!”

Testemunhou o período de transição da agropecuária para o que chamam de “nova agricultura”, e assistiu o fechamento de algumas das últimas fazendas de gado. Olhar para as plantações é a grata reafirmação de que o mundo mudou, um mundo com o qual muitos sonharam. “Vai acontecer…vai sim.” E por que não acreditar?

Algumas espécies de insetos polinizadores que desapareceram da região retornaram, e o respeito ao solo trouxe fertilidade que prescinde de suplementação ou enriquecimento químico. A terra já não é esmagada, subjugada, é valorizada, não pelo lucro que gera, mas por quantas famílias pode alimentar. As novas gerações não conhecem as erosões hídricas, as voçorocas que surgiram com o desrespeito à terra. Tudo foi restaurado como se o mundo anterior nunca tivesse existido.

E com uma nova consciência, quem gostaria de desmatar? Com o fim da agropecuária e a eficiência da nova agricultura o uso da terra caiu para um quinto. E tudo que não é necessário recebe nova cobertura florestal que favorece a natural multiplicação de espécimes silvestres.

Ninguém fala mais em proteínas de origem vegetal como alternativas, porque tornaram-se primárias, essenciais, e não há coerência em trocá-las por proteínas animais. Quem no mundo da nova consciência faria o oposto? “É mais digno comer o que vem do solo, e os animais antes reduzidos a produtos nunca vieram do solo – foram gestados por e para violência que já não admitimos.”

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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