Um relato sobre a dor dos frangos antes do abate

Foto: Andrew Skowron

Você já deve ter visto caminhões transportando frangos. Eles são colocados em caixas e dividem cada uma com vários animais.

Um olhar pode não revelar muito ou talvez nada, dependendo do nosso estado de atenção, consciência e desconexão em relação ao processo de produção de carne.

Mesmo entre as pessoas que reconhecem o quanto a situação dos frangos parece desconfortável, quantas imaginam como aqueles animais chegaram até aquelas caixas?

Juliano, de 29 anos, trabalhou na “pega de frangos” na região de Maringá (PR) por mais de um ano e relata que não é uma atividade pacífica.

“Você não chega na granja e encontra frango pronto pra você pegar. Falar que sim é mentira. Eles fazem o que podem pra fugir, têm medo, não querem ser agarrados”, diz.

“Tem quebra de osso”

Na tentativa de resistir, os frangos, já estressados e assustados, balançam as asas, se debatem e dão bicadas. Irritados, os catadores de frangos reagem batendo nos animais, o que pode ir além de arrancar asas.

“Tem quebra de osso. É mais normal do que você pode imaginar, porque frango de granja já é um bicho meio frágil. Só de agarrar com violência, já existe risco de você causar um grande mal.”

Juliano revela que já machucou um frango por causa de uma “bicada forte”. “Duvido que exista catador de frango que nunca foi agressivo com esses animais”, comenta.

“Tem gente que sente remorso, mas tem gente que não, e quem sente não dura muito na atividade.”

“Sempre tem frango machucado e morrendo”

O que também favorece a violência é o prazo que eles têm para cumprir. “Você tem um tempo definido pra colocar esses animais dentro das caixas. Se o desempenho for muito ruim, pode ser que nem volte”, frisa. “E ainda ganha mal pra fazer isso.”

Questionado se é normal frango morrer durante a viagem ao abatedouro, ele admite que sim. “Sempre tem frango machucado e morrendo na carroceria desses caminhões que as pessoas encontram nas rodovias.”

Pouco espaço, aves amontoadas, chuva, calor em excesso ou frio. “Não parece agradável, não é mesmo e a gente sabe. A experiência me mostrou que um bicho que eu não gostaria de ser é frango. Depois de passar por tudo isso ainda tem choque na cuba de imersão e degola.”

Antes de deixar a atividade no início de 2020, Juliano já tinha percebido um aumento do número de imigrantes atuando como catadores de frangos. “É gente pegando o que aparece pra sobreviver, mas eu já não consigo fazer isso.”

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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