Poderíamos parar de exigir que todos os veganos sejam iguais

(Arte: Hartmut Kiewert)

Serei bem honesto. Não sou vegano pelo que as pessoas acham ou deixam de achar. Sei o significado do veganismo e isso me basta. Sim, me identifico como vegano, mas não vejo o veganismo como um grupo, e sim um movimento com pessoas com opiniões e linhas de ações diferentes em inúmeros aspectos. Até porque não somos réplicas. Sim, há falhas nesse meio, porém não são nequices do veganismo, mas sim das pessoas, e isso pode ser revisto.

Divergências sempre existirão 

Se não for, também não significa que essas vicissitudes irão implodir ou manducar visceralmente ações em prol de um bem maior, ou pelo menos impedir que as pessoas entendam que a mensagem é a de que os animais não devem ser vistos como objetos, comida, mão de obra, entretenimento, enfim, meios para um fim; e que podemos contribuir e fortalecer um conceito de unidade. Não tenho motivo para desacreditar no veganismo.

Porém, como se trata de um movimento baseado em pessoas, logo variegado, as divergências sempre existirão, e cabe a nós estarmos preparados para lidarmos com isso de forma ponderada, sem excessos de passionalidade. Buscar uma normatização ou uniformidade nesse sentido não é apenas utópico como talvez até mesmo sem sentido quando falamos de algo de proporção mundial, e que perpassa naturalmente por valores pessoais distintos e diferenças culturais.

O mais importante é ter consciência do que se faz

No meu entendimento, o mais importante é as pessoas terem consciência do que estão fazendo, serem veganas por entenderem que “os animais não são artigos fabricados para o nosso uso”, como dizia Schopenahauer. Se alguém quiser falar que não sou vegano, não vejo problema também. Mas o que acho interessante em divulgar o veganismo, e no fato das pessoas se colocarem como veganas, quando o fazem pelos motivos certos, que é a luta pelos direitos animais, é que permite que os outros logo façam uma rápida associação com o significado dessa filosofia de vida, e assim entendam cada vez mais o seu significado primordial e real.

Acho que poderíamos parar de querer ou exigir que todos os veganos sejam iguais. Porque nada na vida funciona dessa forma, e com o veganismo não seria diferente. Tenho sempre o cuidado de não achar que o que faço também deve ser feito pelos outros. Este sou eu explorando o que encaro como minhas potencialidades. A do outro podem não ser as mesmas, e posso respeitar isso. Apontar o dedo para o outro sem conhecer a sua real contribuição ou se negar a reconhecê-la me parece sempre um erro e que poderia ser evitado com a clássica razoabilidade.

Há sempre motivos para desmerecer o outro 

Há quem critique quem não faz ativismo de rua, quem não tutela ou resgata animais, quem gosta de alimentos que imitam produtos de origem animal, entre outras coisas. Parece que há sempre motivos para desmerecer o outro em vez de incentivá-lo, motivá-lo. Mas será que conhecemos ou entendemos a luta do outro o suficiente para criticá-lo ou menosprezá-lo? Esses conflitos não podem ser também um indicativo do ser humano se colocando novamente acima dos outros? Colocar-se acima dos outros será que combina com o veganismo?

Será que o outro não faz algo que eu ou você não fazemos? No mais, ainda que não na proporção ideal, o veganismo tem se fortalecido cada vez mais, e cada dia que passa mais pessoas ficam sabendo, mesmo que de forma vaga, o que é um vegano, e isso é bom porque é uma evidência de uma nova consciência em relação à forma como tratamos, poderíamos e devemos tratar os animais. Na minha opinião, o equilíbrio e a ponderação são capitais – absorver o que vale a pena e descartar o que não vale.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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