Ver um animal como alimento é não reconhecer uma vida

O ser humano há muito tempo tem tentado manipular de acordo com seus interesses as emoções e reações dos animais não humanos (Foto: Toronto Cow Save)

Não é raro alguém dizer que há animais que não sofrem, mesmo que sejam explorados para consumo. Isso é realmente possível? Bom, não haver sofrimento, sofrimento visível ou reconhecível não significa que não haja condicionamento, privação e exploração, até porque o ser humano há muito tempo tem tentado manipular de acordo com seus interesses as emoções e reações dos animais não humanos.

Isso por si só já é claramente negativo e reprovável, já que quando falamos de exploração com fins de consumo tudo é feito intencionalmente e em nosso benefício – um benefício vinculado a um exercício de dominância. Se interferimos negativamente na natureza de um animal, logo estamos considerando em primeiro lugar os nossos interesses.

Animais estressados em situação de privação

Em menor ou maior proporção, ou em curto, médio ou longo prazo, por que animais ficam estressados ou sofrem viscerais mudanças comportamentais em situações de privação? Porque não se reconhecem como parte da realidade à qual são submetidos, mesmo que sejam criados com essa finalidade. Alguém pode dizer que há animais criados para benefício humano que são felizes percorrendo o campo, recebendo a melhor alimentação e os melhores cuidados.

Honestamente, não sei se eles são felizes, porque a felicidade é um conceito humano, e nem sempre usar nossas referências ou balizas enquanto espécie é coerente quando falamos de outros seres sencientes. Afinal, corremos o risco de dissimular o que não é de nossa competência inerente. Porém, é claro que animais qualificados suspeitosamente como “livres” demonstram sofrer menos do que animais confinados.

Animais como objetos em movimento

No entanto, se a chamada “liberdade” desse animal, que é provisória, está vinculada à exploração, ele não caminha como um ser vivo com qualquer direito, mas sim como se fosse um produto ou objeto em movimento. Acredito que é importante ter em mente sempre que ver um animal como alimento, ou algo que é tirado dele como alimento, é a testificação da produtificação, independente se quem se alimenta dele ou de algo que ele produz se orgulha de uma equivocada ou falsa compaixão por esse mesmo animal.

Essa produtificação pode não ser nociva aos seus olhos, até por ser uma consequência de fatores historicamente culturais, mas é essa crença que fundamenta e endossa a exploração animal em níveis mais amplos, como a industrial, por exemplo. Afinal, se não houvesse o arbitrário reconhecimento do animal como fonte de alimento, obviamente não precisaríamos discutir sobre isso.

Mais cedo ou mais tarde, serão mortos em nosso benefício

Ademais, mais cedo ou mais tarde, independente do tratamento dispensado, esses animais serão mortos em nosso benefício – seja porque se tornarão “desnecessários” ou “caros demais” para serem mantidos vivos em uma perspectiva antropocêntrica e especista que há muito tempo qualifica vidas não humanas como mercadorias.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Uma resposta

  1. A situaçãio é pior ainda por nem sequer ser “em nosso benefício” e sim, em benefício de uma máquina insensível de fazer dinheiro à custa do sofrimento dos animais e de doenças tais como a hipertensão arterial sistêmica, as doenças cardíacas, as gastroenterites, as infecções urinárias e o câncer, principalmente do intestino e da bexiga urinária.

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