Verdelícia: Amigos conquistam mercado com doces veganos

Cookies, brownies e brigadeiros da Verdelícia estão no mercado há um ano e já têm se popularizado (Foto: Divulgação)

Há dois anos, durante uma conversa na porta de uma faculdade no Rio de Janeiro (RJ), alguns amigos tiveram a ideia de fundar a Verdelícia, uma empresa vegana que tem se destacado na produção de brownies, cookies e brigadeiros, entre outros produtos sem nada de origem animal.

Formalizada como empresa há apenas um ano, a Verdelícia recentemente recebeu um aporte de investimentos que permitirá expandir sua produção e distribuição, garantindo que seus produtos cheguem também aos consumidores de outros estados.

“Estamos em contato com diversos atacados para distribuição em massa e parcerias que prometem remexer o mercado de food service”, garante o sócio-fundador e diretor financeiro da Verdelícia, Gustavo Cardoso.

Em maio, a empresa chamou a atenção com um comercial irreverente e bem produzido voltado à promoção de seus cookies. O vídeo mostra uma jovem vegana com vontade de comer um doce, mas não encontrando nada na geladeira.

“Nosso objetivo é ajudar a democratizar o veganismo, oferecendo nas prateleiras dos mercados produtos que veganos e simpatizantes não encontram facilmente nas ruas”, explica.

Para entender melhor a proposta, projeções e planos da Verdelícia, que se prepara para a expansão, a VEGAZETA entrevistou Gustavo Cardoso, que também compartilhou sua visão sobre o mercado de produtos veganos. CONFIRA:

Por que decidiram investir no mercado de produtos veganos?

Como jovens empreendedores carregamos com a gente, no cotidiano mesmo, uma preocupação inerente com o meio ambiente. Somos brasileiros que estamos tão perto do pulmão do mundo, mas ao mesmo tempo tão distante. O Jan Werner (sócio-fundador) já era vegano e ganhamos essa clareza de que a alimentação baseada em plantas era um empoderamento e uma resposta muito potente em relação a toda problemática que estamos passando. Simultaneamente, percebemos uma demanda extremamente alta por produtos veganos, mas sem uma oferta de contrapartida que suprisse a vontade das pessoas. Nesse sentido, unimos o útil ao agradável: o nosso estilo de vida a um propósito de ser dono do próprio nariz e, através dos negócios, inspirar algum tipo de resposta à crise ambiental.

Você disse que a proposta nasceu na porta de uma faculdade no Rio de Janeiro há dois anos, mas que se tornou empresa há um ano. O que vocês fizeram ao longo de um ano antes de se tornarem uma empresa?

Foi um período muito rico e interessante de validação de hipótese do nosso encaixe de produto no mercado. Foi um ano voltado para pesquisa e desenvolvimento, conversando com muitos lojistas, muitas redes e, principalmente, recebendo toneladas de feedbacks de clientes. Foi realmente importante. Quando nos sentimos confiantes de que tínhamos na mão não só um produto gostoso, mas um produto completo, partimos para o plano de ação e catapultamos a empresa.

Quem desenvolve os produtos e como funciona esse processo?

Os produtos são desenvolvidos pelo Jan Werner que tem formação de chef profissional e atua hoje como diretor de produto. O ‘mantra’ do nosso P&D pode ser resumido em: desenvolver produtos com os clientes, não para os clientes. Quando essa demanda é captada, normalmente a gente vê o Jan ganhando uns cinco quilinhos na cintura, e é quando ele experimenta uma variedade de composições e receitas. Essa é etapa é seguida pela transição para industrialização. Ou seja, aquilo que foi feito por um chef passa a ser inserido na linha de produção exigindo, novamente, formulações e composições diferentes. Contamos com um engenheiro químico no time de qualidade, além de consultorias de responsabilidade técnicas e normas de BPF [boas práticas de fabricação] para garantir essa estabilidade final.

A Verdelícia conta com quantos sócios e funcionários?

O quadro societário hoje conta com quatro pessoas. Três são operacionais e full time, assumindo a direção de suas respectivas áreas. Contamos com mais três pessoas no time full time.

Vocês receberam aporte financeiro recentemente. Podem divulgar quem são os investidores e o valor? Esses recursos serão utilizados para expandir para outros estados?

De início, preferimos manter sigilo por conta da segunda rodada que estamos preparando para o final desse quarto trimestre. Podemos dizer que a injeção que ocorreu vai servir como gasolina em termos comerciais e de distribuição, principalmente no que tange à expansão no Sudeste.

Hoje os produtos da Verdelícia já são comercializados fora do RJ?

Sim, por meio do e-commerce, já podemos atuar em todo o Brasil. Em termos de presença física, atuamos com foco no eixo RJ-SP.

Qual é o carro-chefe da empresa e a faixa de preços?

Difícil dizer. Mas acredito que o cookie de chocolate continua na pole. Foi o nosso primeiríssimo produto nesse formato de prateleira e, até hoje, continua surpreendendo muita gente por aí! Atualmente os produtos são revendidos numa faixa entre R$5,90 – R$7,90 (cookies e brownies). Quanto aos congelados [pastel de queijo, pão de queijo e pão de alho] e o brigadeiro de pote [com leite de amêndoas], estão em uma faixa de R$ 20.

Por que decidiram investir exatamente nesses produtos?

Esses produtos fazem parte da estratégia de go-to-market, criam uma escada de valor entre si, além de, principalmente, cumprirem com nosso propósito de empresa que é democratizar o acesso a produtos veganos. Quem resiste a um bom brownie ou cookie? Com isso, conseguimos, destarte, quebrar o estereótipo vegano e convidar as pessoas a darem um pontapé delicioso dentro dessa categoria.

Hoje é bem comum na internet os veganos reclamarem dos valores dos produtos. É possível oferecer alimentos de qualidade a um preço que seja mais inclusivo?

Sim, com certeza! É, na verdade, um dado extremamente relevante com o qual a gente trabalha: de acordo com a SVB, 60% das pessoas escolheriam a opção vegana se fosse na mesma faixa de preço. O que acontece é que atualmente a indústria vegana se divide principalmente em dois polos: mega indústrias que ampliam seu portfólio de produtos com o selo vegano e produtos muito artesanais e caseiros. De um lado, o selo vegano é uma ferramenta mercadológica e, por isso, colocam um mark-up absurdo e, de outro, o volume caseiro implica em alto custo que é repassado no preço. O nosso posicionamento é agarrar o melhor dos dois mundos.

Como será a entrada da Verdelícia no segmento de food service? E qual é a importância do food service hoje para a popularização dos produtos veganos?

Contamos com alguns parceiros no Rio e alguns em São Paulo. Temos um carinho e um cuidado enorme por esse canal. A quantidade de gente que conhecemos pelo food service e que hoje, além de parceiros, são amigos, é tremenda! O food service tem uma importância gigantesca porque é um intermediário lá no final da cadeia de suprimento que lida diretamente com o consumidor. Ele transforma o produto que a gente fornece em algo pronto e, nesse sentido, realmente tangibiliza o que é a alimentação vegana. Um parceiro me contou: “Os veganos hoje em dia sobrevivem, não vivem.” E isso é uma questão chave. O nosso trabalho com o food service é conseguir oferecer uma vida aos veganos que vão no restaurante e querem comer algo para além da salada ou os restos de arroz.

Vocês acreditam que a oferta de produtos veganos tem contribuído para mudar a concepção que as pessoas têm sobre alimentos de origem não animal?

É uma via de mão dupla: existe muita oferta de produto que contribui para o estereótipo de comida sem graça, mas, por outro lado, sem dúvida nenhuma, estão pipocando uma variedade de produtos deliciosos. A principal estratégia atualmente para mudar concepção é o lançamento de substituíveis. Isso é, carnes vegetais, queijos vegetais, etc. E realmente, comer é um hábito e é cultural. Parece que a concepção está gradualmente mudando sim.

Há previsão de algum lançamento em breve? De aumento de volume de produção? Há outros planos?

Estamos em breve lançando a linha completa de produtos congelados, além da expansão da linha de doces cremosos que irá contar com doce de leite, caramelo e leite condensado, além do brigadeiro (que hoje já vendemos tanto no formato B2B quanto B2C). Tudo, em termos de alocação de investimento, passa por um processo de priorização. Adoraríamos fazer tudo ao mesmo tempo, mas tem de ser aos poucos. De todo modo, todo dia, sem dúvida nenhuma, melhoramos 1%. Consistentemente, no final de um ano, é uma melhoria contínua de 365%.

 

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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