WWF Brasil defende que dados do Inpe sobre desmatamento são confiáveis

Somente no mês de junho as áreas de alerta de desmatamento e degradação na Amazônia Legal somaram 2.072,03 km² (Foto: Peter Muller/Bild)

Esta semana a organização WWF Brasil, atuante nas áreas da conservação, investigação e recuperação ambiental, se manifestou publicamente contra a exoneração do diretor presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, após divulgação de dados revelando, entre outras informações, que o desmatamento cresceu 45% no período de janeiro a julho de 2019, se comparado com o mesmo período de 2018. Além disso, somente no mês de junho as áreas de alerta de desmatamento e degradação na Amazônia Legal somaram 2.072,03 km².

Os dados são baseados em registros do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do INPE, que se baseia em imagens de satélite para orientar a fiscalização em campo. “Considerando somente os alertas do tipo desmatamento, onde já houve remoção da cobertura florestal, as áreas mapeadas em junho somam 920,21 km²”, informou o instituto no início de julho.

Esses dados foram desqualificados pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles. “Desqualificaram os dados desse importante instituto científico, de forma a acobertar o aumento do desmatamento na Amazônia brasileira”, avaliou a WWF Brasil, apontando que não há fundamento para se duvidar da seriedade e acurácia dos dados produzidos pelo Inpe, que há mais de 30 anos se especializou em monitoramento remoto do desmatamento.

O DETER, sistema que vem sendo questionado pelo governo, existe desde 2004 e atualmente é capaz de identificar alterações na cobertura florestal de aproximadamente um hectare, em tempo quase real. Sua função principal é avisar aos órgãos de controle federais e estaduais, bem como à sociedade em geral, o local e a magnitude do desmatamento, para que possam agir a tempo de paralisar uma ação ilegal.

“É reconhecido internacionalmente como um dos mais robustos e transparentes sistemas de monitoramento do desmatamento de florestas tropicais, o que promoveu o Brasil a exportador de conhecimento e tecnologia na área de sensoriamento remoto”, reforçou a WWF Brasil.

E acrescentou: “O Ministério do Meio Ambiente tenta desqualificar os dados do sistema do Inpe sob a alegação de que ele faria ‘dupla contagem’ de áreas desmatadas e contabilizaria derrubadas feitas em um determinado mês apenas nos meses seguintes. Em recente coletiva de imprensa, Ricardo Salles apresentou supostas evidências dessas falhas, sem, no entanto, apresentar qualquer estudo científico que fundamentasse suas alegações e, mais, que certificasse que, se existentes, essas falhas comprometem os resultados do monitoramento feito pelo instituto.”

De acordo com a organização, em função da cobertura de nuvens, o sistema pode contabilizar apenas em junho uma área que tenha sido desmatada em abril. Isso, no entanto, não altera a realidade de que aquela área foi efetivamente desmatada. O fato de haver sido desmatada em abril e não em junho torna-se estatisticamente irrelevante quando os dados são olhados no agregado de vários meses, sobretudo quando comparados com os mesmos períodos de anos anteriores.

“Qualquer um que entrar na plataforma do Terra Brasilis pode fazer esse cálculo. Desde que o governo Bolsonaro tomou posse, em janeiro, até o final de julho deste ano foram desmatados, segundo o Deter, 4.133 km2 apenas na Amazônia Legal. Essa área é 45% maior do que a maior área desmatada no mesmo período (entre janeiro e julho) dos últimos quatro anos”, criticou.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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