Nos primeiros zoológicos, os tratadores tinham de proteger os animais dos espectadores

“O prisioneiro de guerra não pertence à nossa tribo. Podemos fazer o que quisermos com ele” (Foto: Jo-Anne McArthur/We Animals)

Você sabia que quando foram abertos os primeiros zoológicos, os tratadores tinham de proteger os animais dos ataques dos espectadores? Os espectadores sentiam que os animais estavam ali para serem insultados e humilhados, como prisioneiros em uma marcha triunfal. Já promovemos uma guerra contra os animais, que chamamos de caça, embora, na verdade, guerra e caça sejam a mesma coisa (Aristóteles percebeu isso claramente).

Essa guerra foi travada ao longo de milhões de anos. Só a vencemos definitivamente faz algumas centenas de anos, quando inventamos as armas de fogo. Só quando a vitória foi absoluta é que pudemos nos permitir cultivar a compaixão. Mas a nossa compaixão é muito rarefeita.

Por baixo dela existe uma atitude mais primitiva. O prisioneiro de guerra não pertence à nossa tribo. Podemos fazer o que quisermos com ele. Podemos sacrificá-lo aos nossos deuses. Podemos cortar seu pescoço, arrancar seu coração, atirá-lo ao fogo. Não existe lei quando se fala de prisioneiros de guerra.

Páginas 118-119 de “Elizabeth Costello”, do escritor sul-africano J.M. Coetzee, publicado em 2003. A obra é a segunda de Coetzee que traz como protagonista a professora e conferencista vegetariana Elizabeth Costello, que aborda os direitos animais.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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