A dor de um animal é relevante?

A dor de um animal é relevante? Se faço essa pergunta sem contextualizá-la, é mais fácil que as pessoas digam que sim, embora eu não possa afirmar em qual animal alguém tenha pensado.

Porém, se a pergunta é direcionada a quem consome alimentos de origem animal, é pouco provável que tenha pensado em um animal criado para fins alimentícios, porque não é comum a associação instantânea com esses animais – já que estão excluídos do círculo de consideração.

Assim, se a dor não humana é relevante é porque há uma associação com os poucos animais selecionados para compor a nossa ideia de dor relevante. Mas por que somente eles devem fazer parte do círculo de consideração?

Pessoas podem dizer que nunca diriam que a dor de um animal criado para consumo não é relevante, mesmo que alimentem-se de animais. No entanto, se é relevante, a prática dessa relação de consumo não a estabelece como irrelevante?

E se contribuo, o que isso revela sobre a percepção que sustento em relação à relevância dessa dor? Uma pessoa pode romantizar a exploração animal e argumentar sobre técnicas que considera adequadas para evitar que um animal sinta dor – embora sejam sempre alvo de controvérsias por suas falhas, inconsistências.

Mas, quando um animal é submetido a um sistema de subjugação, como todas as suas dores podem ser evitáveis se o sistema existe exatamente pelo não reconhecimento de seus interesses? E não é ignorando-os, porque disso depende a produtificação, que a dor, reconhecida ou não, se estabelece?

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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