A efêmera poesia do efêmero (e o direito de viver)

Em meio à relva, havia um inseto parecido com uma libélula (Foto: Shutterstock)

Quando criança, um dia perguntei à minha mãe o que significa efêmero. Ela não respondeu. Dois dias depois, fomos até um riacho. Em meio à relva, havia um inseto parecido com uma libélula.

Se movia com leveza enquanto sua sofreguidão se harmonizava com a água se chocando contra as rochas. Seu corpo era amarelo, marrom e preto, mas conforme balançava as asas, tudo se uniformizava num dourado lampejante.

Como era fim de semana, minha mãe sugeriu que passássemos o dia naquele lugar, assistindo a rotina daquele inseto singular. No final da tarde, acordei e o vi voando em direção a uma arvorezinha. Lá, se aninhou e repousou.

Nos aproximamos e vimos que o espécime nem se movia, parecia fragilizado. Pensei até que tivesse morrido. Minha mãe me advertiu para ter calma. Cerca de uma hora depois, o inseto depositou uma grande quantidade de ovos em um dos galhos mais ocultos e não mais se moveu, apenas faleceu.

“Por que ele morreu assim e logo hoje que viemos aqui?” Minha mãe sorriu e explicou que aquele inseto na realidade era uma fêmea que se tornou adulta pela manhã:

“A vida adulta dela começou pouco antes da nossa chegada e terminou agora. Ela existe para que outros existam. Mal se alimenta porque o tempo é curto e seus filhos precisam nascer. Por isso o nome dela é efêmera, e é isto que significa efêmero, tudo que tem curta duração; uma palavra que deveria ser sempre usada em referência aos presentes da comunhão que não temos o privilégio de usufruir porque é chegada a hora de partir.”

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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