A exploração animal e humana por trás do chocolate

É difícil encontrar alguma marca de chocolate que não esteja envolvida em algum tipo de exploração. As exceções são empresas que produzem o próprio cacau e/ou não concordem com essa prática. As gigantes do mercado exploram mão de obra barata na Costa do Marfim, onde, além de usarem animais, os produtores de cacau são tão pobres que muitos deles nunca tiveram dinheiro para comprar e experimentar o chocolate que ajudam a produzir. Já no Brasil, aparentemente, até mesmo algumas fábricas de chocolate artesanal compram matéria-prima de locais onde a prática tradicional de colheita do cacau envolve a exploração de burros e jumentos.

Não sou da opinião de que devo simplesmente condenar essas pessoas de origem humilde que sobrevivem dessa atividade, até porque muitos são praticamente iletrados, semianalfabetos e analfabetos. Quero dizer, eles fazem isso porque foi o que fizeram a vida toda, assim como seus pais, avós e bisavós. Então o que falta para eles mudarem é um trabalho de conscientização e boa vontade em ajudá-los a mirarem um futuro mais digno e sem prejudicar os animais não humanos.

Uma sugestão seria fazer um acordo com os compradores de cacau e os fabricantes de chocolate para que ofereçam subsídios, ou que pelo menos ajudem de algum modo, para que esses produtores não apenas não explorem animais no transporte de cacau, mas também ofereçam uma saída sustentável que ajude a agilizar o processo de colheita. Todos ganhariam, porque isso seria um trabalho social que também traria boa publicidade para a empresa que investiria nesse projeto. Afinal, consciência social é um atrativo em um mundo em que os olhos estão se voltando um pouquinho mais para a questão da responsabilidade e consciência social.

Uma alternativa como a dos veículos motorizados ou carrinhos elétricos, mas que seja adaptado para circular por terrenos irregulares da zona rural, se necessário, seria uma opção interessante no transporte de cacau, desde que haja subsídio para baratear custos, já que possui engenharia simples e manutenção barata, como apontam alguns projetos bem-sucedidos. Um bom princípio seria enviar profissionais para estudarem o trajeto feito pelos produtores, a quantidade média de carga, e adaptar o veículo a essas necessidades.

Não creio que seja difícil colocar isso em prática, levando em conta que em algumas cidades do Brasil os veículos motorizados que substituem carroças já existem na área urbana. Talvez um projeto de financiamento endossado pelo governo em parceria com a iniciativa privada, mas com preços que condizem com a realidade dessas pessoas, também pode ser uma alternativa viável. Creio que com boa vontade não é difícil resolver esse problema. Esse projeto se fortaleceria ainda mais com a sólida participação de estudantes de engenharia elétrica e mecânica, e, claro, poderia se estender não apenas à produção de chocolate, mas todas as formas de mão de obra que envolvam animais usados no transporte de carga.

2,3 milhões de crianças são exploradas pela indústria do chocolate 

De acordo com a ong Slave Free Chocolate, 2,3 milhões de crianças trabalham em regime análogo à escravidão na produção de cacau na Costa do Marfim e em Gana. A maior parte dos produtores ganha menos de um dólar por dia. Essa realidade é sustentada por fabricantes de chocolate que pagam uma miséria pelo cacau produzido.

Entre eles estão Hershey, Mars (que fabrica o Snickers), Nestlé, ADM Cocoa, Godiva, Fowler’s Chocolate e Kraft (que inclui Lacta, Trident e Oreo). Ou seja, ao comprarmos produtos desses fabricantes, contribuímos com a chamada escravidão moderna. Outro ponto a se considerar é que essas marcas também contribuem com a exploração de animais nesse mercado.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *