A gente não come bichinho

Pintura: Sara Sechi

Brincava no balanço, apontando os pés para a estrada, quando um frango caiu do caminhão. Levantou rapidinho e correu em direção ao sítio, onde se escondeu atrás de um vaso de pneu.

A menina saltou do balanço e caminhou até o frango. Ela olhava para ele e ele olhava para ela. Percebeu que ele tinha medo. “Não vou te machucar”, disse.

A menina se afastou, sentou na terra e começou a desenhar com um galhinho seco. Fez um franguinho. “Que nem você”, falou.

O frango continuou no mesmo lugar, até que ameaçou um passinho fora e voltou. Outro passinho e voltou.

A menina sorriu. “Se ele for que nem a Verinha, acho que ele entende”, disse, já levantando e andando devagarinho sem olhar para trás.

Ouviu um barulhinho e imaginou que era o frango saindo de trás do vaso. “Não vou olhar. Se eu olhar, ele vai voltar”, pensou.

Atravessou a varanda e entrou em casa pela cozinha. Pegou um punhado de farelo de milho e colocou num comedouro perto da porta. Só encostou a porta e ficou esperando do lado de dentro.

Viu ele caminhar bem devagarinho, olhando para todos os lados. Então ouviu um barulhinho que se repetiu. Era o som do frango comendo o farelo.

Quando Verinha chegou perto, ele recuou um pouco, mas não fugiu. “Ela é galinha e quer ser sua amiga”, disse a menina sorrindo.

O frango virou Juri, que nunca foi parar em uma panela. Ah! Só uma vez, quando cochilou dentro de uma no canto da varanda.

Depois correu e brincou com Verinha. “E ainda continua porque a gente não come bichinho.”

Gosta do trabalho da Vegazeta? Colabore realizando uma doação de qualquer valor clicando no botão abaixo: 




[themoneytizer id=”85237-1″]

 

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *