Um animal deve ser tratado como um laboratório de carne? Um pecuarista foi premiado em uma exposição agropecuária porque um touro de sua fazenda atingiu o peso de 1.450 quilos. Ao olhar para o animal, penso no desconforto de ser tão pesado.
Um animal tão pesado não consegue ter boa mobilidade. Para se ter uma ideia, em rodeio, uma prática cruel, mas que depende de boa mobilidade do animal, touros têm a metade ou até mesmo menos da metade desse peso.
Esse tipo de premiação existe para exaltar o “potencial de produção de carne de uma propriedade”, assim como novas técnicas de manipulação genética. Nesse ritmo, imagine como serão esses animais em 10, 20 anos.
A lógica é a de que um animal com fim na pecuária não precisa ter uma mobilidade que seja mais do que necessária para gerar lucro. Isso é algo que encontramos em todos os segmentos da pecuária, envolvendo, na incessante busca por “alto rendimento”, todos os animais criados como fim no interesse humano.
O animal “premiado”, e a quem não interessa o prêmio, torna-se então um símbolo de uma conquista baseada na coisificação, na sua e na de outros. Seu corpo extremamente pesado reflete uma realidade que diz respeito a um novo passo na exploração animal – o potencial de produtificação dos animais de uma propriedade. Ele está lá para ser prova viva desse potencial.
Enfim, é sobre corpos que devem crescer em menos tempo e tornarem-se produtos, ou fontes de produtos, em menos tempo. “Alto rendimento” na pecuária é comumente um eufemismo para a obtenção de um lucro com base na intensificação e/ou aceleração do prejuízo para o animal.
É também sobre afastá-lo do que é ser, por inerência e não por exploração, um animal. Também é muito comum o uso do argumento de “obtenção de mais qualidade”. Mas isso não é paradoxal se a qualidade evoca o mal do próprio animal?
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Uma resposta
Qualidade para quem mesmo? Para o animal que não é…
Que horror…