Bactérias multirresistentes são encontradas perto de granjas de suínos no Paraná

“A indústria pecuária segue submetendo os animais a práticas de confinamento insustentáveis, além de utilizar antibióticos de forma preventiva para mascarar os efeitos negativos inerentes desses sistemas” (Fotos: Andrew Skowron/Proteção Animal Mundial)

Neste mês de dezembro, a organização Proteção Animal Mundial publicou um relatório denunciando a presença de genes de resistência a antibióticos (GRAs) e bactérias multirresistentes em rios e solos próximos de granjas industriais de suínos no Paraná, que é o segundo maior estado produtor de carne suína do Brasil.

“Como o país está em quarto lugar em relação ao número de suínos no mundo e na produção de carne suína, já desconfiávamos que este seria um cenário relevante para o estudo.” As coletas ocorreram em cidades que têm os maiores rebanhos de porcos do Paraná – como Toledo, Castro, Carambeí, Piraí do Sul e Palotina.

As amostras de água e de solo sugerem que a pecuária industrial intensiva pode estar liberando GRAs e bactérias multirresistentes no meio ambiente por meio de dejetos de suínos e da contaminação da água.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os antibióticos não sejam usados rotineiramente para prevenir doenças em animais criados em fazendas. Apesar disso, a prática continua generalizada em sistemas intensivos, com até 75% dos antibióticos do mundo sendo usados nesses animais. Além do Brasil, o estudo apresentou resultados preocupantes nos Estados Unidos, Canadá, Espanha e Tailândia.

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), da OMS, a resistência aos antimicrobianos (RAM) representa uma ameaça sanitária global crescente, que deve ser abordada com urgência na Saúde Única – que engloba a saúde pública, animal e o meio ambiente.

Gravidade das consequências 

“A resistência antimicrobiana coloca em risco o tratamento eficaz de infecções causadas por bactérias, vírus, parasitas e fungos, resultando em enfermidades mais prolongadas e com maior mortalidade. Ao mesmo tempo, essa resistência põe em risco a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares e, com ela, a segurança alimentar”, explica a Proteção Animal Mundial.

“Mesmo assim, para atender à crescente demanda global e produzir proteína animal com baixo custo e em larga escala, a indústria pecuária segue submetendo os animais a práticas de confinamento insustentáveis, além de utilizar antibióticos de forma preventiva para mascarar os efeitos negativos inerentes desses sistemas.”

Estima-se que cerca de 131 mil toneladas de antibióticos são usadas em todas as cadeias de produção da pecuária a cada ano.

A entidade destaca que em criações intensivas, extremamente estressantes e superpovoadas, os animais são mantidos em espaços minúsculos, sofrem mutilações e os filhotes são separados precocemente de suas mães, causando um sofrimento inimaginável. Tudo isso faz com que os animais tenham uma redução na imunidade, criando o ambiente perfeito para contaminações. Como solução para evitar que os animais adoeçam, eles recebem doses diárias de antibióticos.

“Muito além de tratar enfermidades, os antibióticos são comumente utilizados para evitar doenças causadas por problemas no manejo e altos níveis de estresse sofridos por animais em confinamento extremo”, reforça Daniel Cruz, Gerente de Bem-Estar Animal da Proteção Animal Mundial.

Saiba Mais

Mais 700 mil pessoas morrem a cada ano por infecções que não respondem ao tratamento com antibióticos. Se essa tendência continuar, as projeções indicam que esse número possa aumentar para 10 milhões de mortes por ano até 2050.

Clique aqui para ler o relatório completo.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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