Bezerros, crianças que morrem por hábitos humanos

Foto: Getty Images/Westend61

E quando uma criança é um produto indesejado? É só matar. E quando é produto desejado? É só matar. O que muda é o tempo, que não é muito. Mais cedo, mais tarde, o que se desconecta da voracidade?

Tarde? De modo algum. Quem dirá que não? Modo de falar? Dá ideia errada do que é estar e já não estar. Morre por desejos cotidianos. Morte de um é plural repetição que vem da indiferenciação. Só mais um.

Quando viu bezerro macho, não gostou e condenou. Noutro lugar, perto dali, alguém comemorou. A vida é o prazer da morte num ambiente mais perto ou mais distante. Então vem a consideração da geração. Lucro? Quanto? Apetite? Quando?

Com alguma idade, de pouca significância no ideário humano de temporalidade, o que mais incomoda? Violência? Ausência? Solidão? Saudade? Berram que não há. E o medo vem de onde? Da maldade que é uma vontade?

Alguém disse que bezerros crescem e decrescem com passos de sangue – escorregam e desaparecem. Para criatura indesejada, há pouca distância entre o sangue do nascimento e o da morte. Quando desejada é tão grande? Nem tanto. Dá pra fazer de conta que sim, sempre dá. Exercício de todo dia.

Viu quando uma bola de sangue atropelou um bezerro. Gemeu no chão. Era só menino e tinha cheiro de umbigo. Umbigo? Tentou levantar e caiu morto, com quatro patas abertas e olhos que pareciam tipo de vidro. Piscou e já não estava ali. Sangue ficou.

Por que onde tem bezerro tem sangue? Não queria resposta. Todo o capim ficou carmesim. Choveu leite e os bezerros levantaram as bocas seladas. Secaram até morrer. Chuva parou e viu o leite descer por estrada em direção à cidade. Vermelho, arrastava corpos.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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