Ainda que o desmatamento na Amazônia já tenha como grande responsável a agropecuária, que já ocupa a maior parte das áreas agricultáveis brasileiras, ontem (19) o presidente Jair Bolsonaro defendeu que o Brasil precisa criar mais boi se quiser diminuir o preço da carne.
“O preço da carne subiu? Temos que criar mais boi aqui. Para diminuir o preço da carne, eles [indígenas] podem criar boi”, disse em entrevista à imprensa em frente à residência oficial.
Bolsonaro declarou também que os indígenas devem ter o direito de arrendar suas terras para a agropecuária. “O índio vai poder fazer em sua terra o que o fazendeiro faz na dele. Se quer pegar a sua terra e arrendar para alguém, faça isso, respeitando a legislação nossa”, frisou. Vale lembrar que em 2019 o número de invasões a terras indígenas subiu para 160. Em 2018, foram 111 casos de invasão.
Apelidado de “Padrinho da Biodiversidade”, o ambientalista e biólogo norte-americano Thomas Lovejoy, que atua na Amazônia há mais de 50 anos, falou recentemente em entrevista ao Banco Mundial que a pressão sobre a Amazônia está cada vez maior.
“Os lugares de maior risco são o sul e o sudeste [regiões do Pará, Mato Grosso e Rondônia], mas também há pressões surgindo em novos locais. Um dos maiores problemas é o desmatamento motivado por atividades agropecuárias”, declarou o biólogo norte-americano.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem mais de 350 milhões de hectares ocupados por atividades agropecuárias. Desse total, 200 milhões são apenas de pastagens, e um grande percentual dessas áreas já sofre as consequências da degradação associada ao mau uso da terra.
De acordo com a divisão de monitoramento por satélite da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de um total de 172 milhões de hectares de pastagens avaliadas, mais de 60% está em estágio de degradação. Isso pode explicar o interesse cada vez mais crescente de agropecuaristas de várias regiões do Brasil pelas terras ainda virgens da Amazônia.
Recentemente a BBC denunciou no documentário “Carne: Uma Ameaça ao Nosso Planeta?” que a Amazônia perdeu 20% de cobertura florestal e afirma que a principal responsável é a agropecuária. Vale lembrar também que de acordo com um estudo da Universidade de Oxford e da Universidade de Minnesota publicado no dia 12 de novembro no periódico da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (Pnas), a carne gera 35 vezes mais impacto ambiental do que os vegetais, considerando toda a cadeia produtiva e todos os indicadores.
A pesquisa intitulada “Multiple health and environmental impacts of foods”, e realizada por David Tillman, Jason Hill, Marco Springmann e Michael A. Clark, destaca que 50 gramas de carne vermelha, por exemplo, está associada a 20 vezes mais emissões de gases do efeito estufa e, dependendo do sistema de produção, até 100 vezes mais uso da terra do que uma porção de 100 gramas de vegetais.