Como é possível e necessário ser vegano

O veganismo é o meio mais honesto de combate à privação e ao sofrimento desnecessário imposto aos animais (Fotos: Jo-Anne McArthur/Reprodução)

Às vezes, algumas pessoas falam em ser ou não ser 100% vegano, favorecendo uma confusão e descrença benéfica à indústria da exploração animal, porque esta deseja que as pessoas vejam o veganismo como inviável em suas vidas, ou que questionem de maneira equivocada o seu papel como veganas. Não é tão incomum alguém dizer: “Não me sinto como se fosse realmente vegano.” Você faz tudo que está ao seu alcance? Se sim, está tudo bem.

O veganismo como conhecemos hoje surgiu em âmbito urbano, dentro de uma realidade pós-revolução industrial. Não há motivo para o complicarmos. Claro que dúvidas são importantes, e se elas nos levam adiante, isso é positivo. Porém, nada do que é dito a respeito do que é ser ou não ser vegano, apresentando prováveis impossibilidades e contradições, deveria nos incomodar tanto. Há dúvidas e questionamentos que sem dúvida são pertinentes, mas há outros que podem ser capciosos ou condutores de ideias equivocadas.

Muitas críticas ao veganismo esbarram em um ponto que considero importante – entender o veganismo sob a ótica vegana. Mas claro que sou bem consciente de minhas limitações, e nenhuma delas me leva a desacreditar no veganismo, e porque acredito que não há motivo. Mesmo quando o veganismo surgiu, não tenho dúvida de que ninguém disse que veganos seriam pessoas perfeitas, que nunca tomarão parte na exploração animal em suas vidas. Não se trata disso.

Se alguém aponta o dedo pra mim e diz: “Ah, cara, você não tem como evitar exploração o tempo todo. Como pode ser vegano?” Sim, não tenho como evitar tomar parte na exploração o tempo todo, porque existe um sistema que é maior do que todos nós, mas é justamente por isso que sou vegano, porque é uma luta constante. Se eu não precisasse questionar nada, isso significaria que o mundo já é vegano (também não usaríamos tal termo mais), e ninguém que é contra a exploração animal teria do que se queixar.

Mas se reclamamos e até encontramos dificuldades nessa jornada é porque ainda temos muito o que fazer. Acima de tudo, é a insatisfação e a exigência de novas alternativas que levem às mudanças, não a aceitação, rótulos ou apego ideológico. Veganismo é um imperativo moral sobre redução de impactos. É preciso fazer tudo que está ao nosso alcance para não tomarmos parte na exploração animal.

Dedicação, força de vontade e empatia 

Ou seja, é sobre dedicação, força de vontade, empatia. Evita-se comer tudo de origem animal, assim como usar qualquer produto de origem animal ou contribuir com qualquer tipo de subjugação de animais. Porém, há situações que fogem do nosso conhecimento e do nosso controle por vivermos em uma realidade baseada em um sistema que usa os animais até para as finalidades mais desnecessárias. A maioria da população não tem a mínima ideia de como os animais não estão apenas em seus pratos, mas praticamente em quase tudo que elas usam.

Quando um animal explorado pela indústria morre, muitas vezes não há o que enterrar, porque tudo que um dia fez parte de uma vida é transformado em algum produto. Isso não é estranho? Tem gente que qualifica isso como consequência e aproveitamento. Mas ignora-se que quanto mais um animal é qualificado como produto, mais ele se distancia de ser visto como vida para ser definido como objeto. E isso é extremamente absurdo.

A Primeira Revolução Industrial ocorreu entre 1760 e 1840 e a Segunda Revolução Industrial entre 1850 e 1945, e com elas surgiu toda uma cultura que intensificou o uso de animais como produtos, e a níveis inimagináveis. E isso não teve impacto somente para os animais não humanos, como podemos perceber em obras como “The Jungle”, de Upton Sinclair, que discorre sobre as duas formas de exploração, humana e não humana, por entender que são vilmente análogas em muitos aspectos.

Claro, o uso de animais como produtos também é um infeliz fator cultural, já que se trata de prática socialmente legitimada, mas é exatamente esse fator da depreciação da vida que nos leva à banalização de tantas coisas. Se um vegano é, por uma eventualidade, obrigado a usar algo que seja proveniente da exploração animal, por não haver alternativas, isso não significa que ele não é vegano, mas sim que há muito a ser feito e cobrado. Logo ser vegano neste mundo não é apenas possível como necessário.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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