Como o consumo naturaliza a exploração da sexualidade não humana

Foto: Lukas Vincour

Quando pensamos em tantos animais criados para consumo e de diferentes espécies, é comum ignorarmos que a sexualidade desses animais é explorada de forma arbitrária e artificializada.

Um animal em condição de não subjugação só se relacionará com outro de acordo com sua própria natureza, ainda que seja inaturalizada por sua condição doméstica.

Ele não corresponderá a um cronograma de procriação que atenda aos interesses humanos, de lucro e consumo. Então sua sexualidade é manipulada para corresponder a uma expectativa de mercado. E se não corresponder está sujeito a ser logo descartado.

Nesse processo um animal pode ser amarrado ou preso em uma máquina para ter sua intimidade violada. No caso dos machos também há plataformas que são utilizadas para contê-los e submetê-los.

Não posso dizer que produtos de origem animal não significam domínio sobre a sexualidade de outras espécies. Afinal, tudo começa com a geração de vidas. E de que forma são geradas essas vidas senão pelo domínio da sexualidade dessas criaturas?

Um animal que já nasce inatural para ser manipulado terá uma vida inatural e gerará uma vida inatural nessa abusiva cadeia de consumo. Não se produz o volume de proteína animal que temos hoje no mundo sem essa massiva e legitimada violação.

Olhar para um produto de origem animal não é olhar apenas para a morte, mesmo que seja um pedaço de carne, mas também para os institucionalizados abusos que dão origem a essa vida perdida, o que inclui a exploração da sexualidade não humana.

Resultado de um exercício de domínio para ser um produto, fonte de produto ou os dois, um animal é uma criatura que no nosso sistema alimentar é consequência de abusos. Claro que muitos podem não reconhecer esses abusos porque creem que “essa é a vida dos animais”.

Então “sendo suas vidas”, a ideia de abuso é esvaziada. No entanto é uma percepção equivocada, porque essa não é a vida deles, mas em que as transformamos e minoramos com base no “condicionamento pelo interesse”.

Crer que o abuso é somente aquilo que é ilegal é ignorar que a legalidade do abuso não o descaracteriza como abuso.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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