Consumo de animais é um carrossel de violência

Ilustração: Jana Schirmer

Em relação aos animais não humanos, nosso sistema de consumo é um carrossel, um terrível carrossel, que nunca é desligado ou desativado. Por mais iluminado que seja, sua luz não é maior que sua escuridão, para onde a maioria nunca olha.

“Como é brilhante e sedutor, como enche-nos de prazeres que dão vontade de viver muito mais para poder aproveitar ainda mais este carrossel. Temos olhos treinados para enxergar ou considerar não a realidade, e sim aquela que criamos a partir da nossa vontade, que também nos conforta com irrealidade.”

Já disseram-me não achar justo afirmar que sorrimos para o sofrimento dos animais, mesmo como artifício de provocação, mas se sorrimos para o que depende desse sofrimento, que diferença faz para os animais se isso é “só” apreço pelo resultado? Não há fator de nulidade. A destruição de uma vida não continua sendo meio para um fim que leva à satisfação?

Se sorrio para um produto que não existe sem sua dor, sim, posso dizer que não estou sorrindo para a vítima, e sim para aquilo em que ela transformou-se. Porém, não celebro também sua subjugação e morte? Não é meu sorriso uma comemoração de um fim que não é meu, que não concretizei, mas tanto desejei e por isso paguei?

Se um produto existe a partir de exercício de domínio e consumação de violência, e se estou entre aqueles que custearão todas as etapas da breve vida dum animal refém do consumo humano, imagino meu sorriso fixando-se em cada lugar miserável por onde ele passou – desde o seu nascimento, quando inicia-se a formalização da coisificação ou produtificação, até sua chegada a um laboratório, espaço de subjugação de vida útil “produtiva” e matadouro, que pode ser fim tanto principal quanto secundário.

Então sim, posso imaginar um carimbo com meu sorriso em cada instrumento que viola sua carne, dignidade e intimidade, se meu contentamento decorre do que depende dessas ações. O prazer que tenho com “coisas” que não levam-me a pensar num animal ou em sua vida não anula o fato de que são as ausências do ser e viver que asseguram minha satisfação. Logo sorrir para o que decorre de violência é sorrir para sua antecedência.

Ilustração: Jana

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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