Covid-19: comércio de animais está prejudicando a economia

(Fotos: Getty/Greenpeace)

Hoje, quando se fala no novo coronavírus, não há como ignorar o impacto negativo que o comércio de animais, também com fins de consumo, trouxe à economia global com a intensificação da covid-19 em diferentes partes do mundo.

Perda de cinco trilhões e investimento de 20 trilhões 

Com a desaceleração nas atividades econômicas em decorrência da necessidade do isolamento social, a Organização das Nações Unidas (ONU) estimou já nos primeiros meses da pandemia que o novo coronavírus geraria prejuízo econômico de mais de cinco trilhões de reais.

O combate à covid-19 exigiu investimentos de quase 20 trilhões de reais nos primeiros meses, segundo a multinacional TMF Group. Levando em conta que as pesquisas convergem à conclusão de que o novo coronavírus surgiu por influência da destruição de habitats de animais silvestres, assim como o contato, comércio e consumo desses animais, não é difícil perceber que desmatamento e má interferência na vida silvestre também são mau negócio para a economia, e ainda prejudicam muitas atividades sem qualquer relação com esse mercado.

Não há previsão de fim dos prejuízos

Se calcularmos os lucros gerados em um ano pelo mercado baseado na exploração de animais silvestres ou domesticados para fins de consumo, ainda assim não seria possível superar as perdas e gastos gerados em decorrência da disseminação da covid-19, que nem mesmo tem hoje uma previsão de fim.

O mercado global de processamento de carne, por exemplo, movimentou em 2019 o equivalente a 3,35 trilhões de reais, de acordo com a empresa de pesquisa global de mercado IMARC – o que não parece grande coisa diante do prejuízo mundial já amargado com a disseminação da doença.

Indústria da carne contribui com degradação de espaços naturais

E a indústria da carne, por meio da pecuária, é um segmento que contribui diretamente com a degradação de espaços naturais, habitats de espécies em condições de transmitir doenças zoonóticas, por meio de sua expansão – tanto da criação de bovinos para consumo quanto de grãos reduzidos à ração para os animais que serão mortos e reduzidos a produtos – incluindo aves, suínos e outras espécies domesticadas.

Mesmo com uma ampla realidade de ação e efeito diante dos nossos olhos, ainda é predominante a equivocada perspectiva coletiva de que o surgimento da covid-19 é um problema que deve ser avaliado de forma isolada – como se o fim de um mercado de animais silvestres em Wuhan, na China, pudesse resolver todos os nossos problemas envolvendo graves doenças zoonóticas – o que não condiz com os fatos.

Favorecemos o surgimento de doenças zoonóticas

Afinal, só aumentam as provas de que favorecemos o surgimento dessas doenças sempre que interferimos no habitat de outros animais; assim como quando submetemos animais a situações de privação contínua e aglomeração – o que é comum também na pecuária e apontado como causa de outras doenças zoonóticas como a gripe aviária e suína.

Ademais, o mundo está distante de não acumular mais prejuízos. Ainda assim, a tendência para os próximos anos é criar cada vez mais animais com fins de consumo – ampliando aglomerações de várias espécies e criando novos cenários de disseminação de doenças.

Economias encolhem com o coronavírus

Outra estimativa da ONU avalia que mais meio bilhão de pessoas podem ser empurradas para a pobreza à medida que as economias em todo o mundo encolhem em consequência do coronavírus, com possibilidade de os países em desenvolvimento descerem aos níveis de pobreza de 30 anos atrás.

Em síntese, não vejo como ignorar que a covid-19 também mostra como o comércio de animais para consumo prejudica a economia, nossa saúde, os animais e o meio ambiente.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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