Você já viu animais criados para consumo sendo “cutucados” com um bastão que parece inofensivo? Usado para exercer controle sobre os animais, obrigando-os a algo contra a própria vontade, esse bastão de choque com duas pontas de cobre é o que chamam também de “ferrão eletrônico” ou “picana elétrica”.
É muito utilizado no Brasil, onde é comercializado livremente e destacado como um “aliado no manejo”. É conhecido como um meio de “conduzir e instigar o animal” nas propriedades, no embarque, no desembarque, em qualquer circunstância que alguém julgue “favorável”. Se o animal resiste, o bastão de choque entra em ação.
Quando vejo esse “instrumento” me pergunto quantas vezes foi utilizado contra bovinos ou suínos. É aceitável dar choque em alguém para que faça o que queremos? Se é cômodo, então devemos?
Estamos sempre criando “instrumentos” para exercer domínio sobre outros animais. O que chamaríamos de agressão se aplicada contra nós, em relação a um animal criado para consumo é apenas um “meio de facilitar uma prática produtiva”.
O olhar que prioriza o benefício humano em detrimento de outras criaturas é sempre um olhar de legitimação da violência. Se um “instrumento” que contém alguém por meio da dor é livremente comercializado, então tem-se a crença de que ele deve ser usado porque seu uso foi institucionalizado.
Mas é a institucionalização que deve guiar nossa consciência ou uma percepção não supremacista sobre violência e consequência? Há algum tempo, vi imagens de animais recebendo choque para embarcarem em um navio, e nenhum olhar ao redor de estranhamento.
Quando o choque, que é uma agressão contra um corpo, não gera reação em quem o vê, o que isso diz sobre a naturalização dessa violência? Diz que não é reconhecida como violência, que o corpo não humano existe para ser seviciado, produtificado.
Devemos continuar sendo tão seletivos em relação ao entendimento de violência? Se sim, é porque a resistência continua vindo do nosso prato.