É aceitável o derramamento de sangue dos animais?

Que associação é feita com o sangue subtraído de um corpo não humano em impossibilidade de resistência, de fuga? O que isso nos permite considerar? Talvez alguém diga que depende da proporção de sangue, de onde está sendo removido, de que forma isso está sendo feito e por qual motivo. Mas são essas questões que tornam a situação relevante?

Ou o fato de que, independente de possibilidade ou impossibilidade de fuga, é mais uma situação de violência, de sevícia institucionalizada? De repente, alguém diz para observar os olhos do animal, que são “reveladores”.

Mas e se não fossem “reveladores”? Isso tornaria a situação menos crítica? Reações podem ser suavizadoras de práticas de violência? Se uma vítima manifesta-se de maneira menos “reveladora”, isso significa que a imposição de violência é mais aceitável do que daquela que é expressão mais marcante de “revelação”?

Ou a prática em si contém a substância de um mal imposto? É por si uma representação que posso associar independente de quem observo, ou nem observo, com uma ação reprovável, e porque é propriamente reprovável?

Se pondero, por exemplo, que o sangue derramado de um animal não humano “preparado para a faca” é proveniente de um indivíduo, não devo conceber que diversa será também sua reação? Já que um indivíduo não significa “uma repetição”, ainda que seja parte de um processo de violência continuada, serializada.

Se estamos diante de dois animais, e que são mortos simultaneamente para fins de consumo, e um deles manifesta “mais desespero do que outro”, o que garante que o impacto reacional é maior para um do que para outro? O que garante que um está mais desesperado do que outro?

Se acreditamos nisso, não estamos relativizando o sofrimento, o “mal em si da prática” e submetendo-nos à artificiosa balança de valores do supremacismo humano? Mesmo quando as pessoas dizem ser contra o mal praticado contra os animais não estão livres das armadilhas do relativismo, que pode operar a crença dos “maiores sofrimentos” a partir da crença na “dor mais explícita”.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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