Em defesa dos animais, Conflict lançou “Carne Significa Assassinato” há 37 anos

À época, “Meat Means Murder” se tornou uma referência para o movimento pela libertação animal na Inglaterra

Dois anos antes do The Smiths lançar “Meat is Murder”, a banda britânica de anarco-punk Conflict lançou o clássico “Meat Means Murder (Carne Significa Assassinato)”, que faz uma crítica direta ao consumo de carne e à exploração animal. A música faz parte do álbum “It’s Time to See Who’s Who”, lançado em Londres em 1983, e que à época se tornou uma referência para o movimento pela libertação animal na Inglaterra.

Em entrevista a Pete Woods, do Ave Noctum, publicada em 5 de dezembro de 2013, o vocalista e membro-fundador do Conflict, Colin Jerwood, disse que a princípio a ideia era formar uma banda sem grandes pretensões. Porém, com o tempo, eles ficaram surpresos com o impacto que suas músicas tiveram entre os ativistas pelos direitos animais. “Na verdade, nunca imaginei que essas palavras que escrevi teriam esse impacto e inspirariam tantas pessoas”, disse.

Quando “Meat Means Murder” foi lançada, Colin era um vegetariano de 20 anos, que mais tarde se tornaria vegano. Em entrevista a Niall McGuirk, publicada pelo The Thumped em 5 de maio de 2013, ele relatou que logo se envolveu com o grupo de ação direta Animal Liberation Front (A.L.F), conhecido por invadir lojas, laboratórios e fazendas para libertar animais.

Em 1984, o Conflict realizou shows em protesto contra a prisão de membros da A.L.F. Também arrecadou dinheiro para a libertação dos ativistas. Na página 166 do livro “No Future: Punk, Politics and British Youth Culture – 1976-1984”, lançado em 2017, Matthew Worley aponta que em termos práticos o anarquismo punk tende a desautorizar a organização política formal a favor da ação.

Entre as suas diversas facetas, principalmente na Inglaterra, estão ações de libertação animal, sabotagem à caça e levantamento de fundos para grupos de ativismo animalista: “Alguns, incluindo Colin Jerwood, do Conflict, alinharam-se com a Animal Liberation Front (A.L.F), o que condiz com a ação direta defendida em seu EP To a Nation of Animal Lovers EP (1983).”

Outro autor que reconhece a importância musical do Conflict como instrumento de conscientização sobre a realidade da exploração animal e do chamamento para o ativismo a favor dos direitos animais a partir da década de 1980 é Ian Glasper, autor do livro “The Day the Country Died: A History of Anarcho Punk 1980-1984″, de 2006. “Depois do Crass, a maioria das pessoas quando fala no gênero anarco-punk pensa imediatamente no Conflict, uma banda cuja música era honesta, agressiva e intransigente, e que fazia dos direitos animais a sua questão principal”, destacou na página 104.

No artigo “Nailing Descartes to the Wall: animal rights, veganism and punk culture”, publicado em 2014 na Anarchist Library, Len Tilbürger e Chris P. Kale citam que entre as inúmeras bandas anarco-punk que abraçaram os direitos animais e o veganismo nos anos 1980, Conflict é considerada a mais importante:

“Para complementar suas exortações líricas, eles projetavam imagens de vídeo, obtidas pela própria banda que se infiltrou em matadouros, em telas por trás do palco enquanto se apresentavam. Eles também exaltavam os movimentos de ativistas pela libertação animal na década de 1980.”

Nas páginas 232 e 233 da tese de doutorado “An Investigation into the Emergence of the Anarcho-Punk Scene of the 1980s”, publicada pela Universidade de Salford, no Reino Unido, em outubro de 2004, o autor Mike Dines observa que muito do material do Conflict é um “chamado” à luta contra matadouros e as estruturas do governo.

Ele usa como exemplo a faixa “Ungovernable Force”, de 1986, em que Colin Jerwood questiona: “O que significa ação direta?” Então ele continua: “Isso significa que não estamos mais preparados para continuarmos sentados e permitir que coisas terríveis e cruéis aconteçam. Ação direta pelos direitos animais significa causar danos econômicos aos que abusam e lucram com a exploração”.

Saiba Mais

O Conflict foi fundado em Eltham, Sul de Londres, em 1981. A formação original da banda era Colin Jerwood (vocal), Francisco ‘Paco’ Carreno bateria), Big John (guitarra), Steve (Guitarra) e Pauline (vocal). O primeiro lançamento do Conflict foi o EP “The House Man Built”, de 1982. Em 1983, no EP “To a Nation of Animal Lovers”, Steve Ignorant, do lendário Crass, fez uma participação especial. Mais tarde, com o fim do Crass, ele ingressou como segundo vocalista.

Referências

Woods, Pete. Interview – Conflict. Ave Noctum (5 de dezembro de 2013).

McGuirk, Niall. It’s Not About Sitting In Your Slippers – An Interview With Conflict’s Colin Jerwood. The Thumped (5 de maio de 2013).

Worley, Matthew. No Future: Punk, Politics and British Youth Culture – 1976-1984. Página 166. Cambridge University Press (2017).

Glasper, Ian. The Day the Country Died: A History of Anarcho Punk 1980-1984. Página 104. PM Press (2014).

Tilbürger, Len; Kale, Chris P. Nailing Descartes to the Wall: animal rights, veganism and punk culture. Anarchist Library (2014).

Dines, An Investigation into the Emergence of the Anarcho-punk Scene of the 1980s. PhD thesis. University of Salford, UK. Páginas 232-233 (2004).

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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