Frangos, animais criados para viverem apenas um mês

(Fotos: Anita Krajnc/QD Tune)

Imagine ser um frango e morrer com um mês de idade, como acontece com a maioria dos reduzidos a pedaços de carne ou comercializados inteiros nos açougues. São 30 a 45 dias – um mês ou um mês e meio – entre vir ao mundo, crescer e morrer para virar produto.

O que somos capazes de fazer em um período tão curto? Ainda que para nós seja um tempo proveitoso ou produtivo, jamais poderemos imaginar como é a experiência de viver por apenas um mês.

Então faço uma sugestão. Guarde a data de hoje ou sugira que outra pessoa faça isso. Pense nesta data como o nascimento de um frango criado para a indústria de processamento de carne e tente lembrar-se dela daqui um mês ou um mês e meio.

Isso significará que o frango que você imaginou ter nascido hoje, já não estará mais aqui, pelo menos não com vida. Bom, quem sabe, a caminho do matadouro, sendo degolado ou embalado em um frigorífico.

“Será que essa carne é boa?”

Pode ser que tenha sido recém-fatiado por um açougueiro; ou já esteja disponível em embalagens plásticas ou bandejas nos freezers dos supermercados.

Lá estará ele, sendo tocado por inúmeras mãos que avaliam se merece ou não ser consumido; se o preço de sua carne resultante de violência é justo. “Será que essa carne é boa? Será que está gostosa? É de boa qualidade?”, dirão diante do frango sem vida – fragmentado ou não.

Algumas partes podem estar expostas na vitrine iluminada do açougue, percorrida por tantos olhares que não associam “o que está ali” com uma criatura nascida no mês anterior.

Em 30 a 45 dias, chegou ao mundo como um pintinho de “raça de corte”, foi condicionado a engordar, recebeu antibiótico e passou por situações de estresse e ansiedade, comuns à vida em confinamento, antes de ser abatido.

Quantos estão preocupados com isso?

Como não desenvolver comportamentos negativos ou não sentir-se mal quando se é um animal social de outra espécie, mas privado de manifestar comportamentos e características sociais incompatíveis com o sistema industrial de produção de alimentos?

O papel da indústria é potencializar a produção, não a qualidade de vida dos animais; e não há suposta qualidade de vida que justifique ser criado para ser morto para consumo. E quanto mais as pessoas se alimentam de animais, mais cresce a demanda e mais rápido essas criaturas são mortas.

Mas quantos estão preocupados com isso? Os matadouros, frigoríficos e açougues continuam cheios, recebendo enormes quantidades de frangos, animais reduzidos a produtos na precocidade. Só no Brasil, são mortos pelo menos 694 mil frangos por hora.

Que vida curta e dolorosa que finda com a degola e o escoamento de grande quantidade de sangue. De preferência, com o animal pesando pelo menos 2,5 quilos. Dependendo do contexto, o ideal, segundo o mercado, são 3.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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