Galinha não bota ovo pra gente

“Tem hora que o ovo acaba, e com ele acaba a galinha”, disse o avô (Ilustração: Luke Chueh)

A ideia de um ovo que sai de uma galinha para ser comido chamou a atenção de Rubinho. No supermercado, ele viu pessoas colocando bandejas em cestinhas e carrinhos.

Contou três cores e viu diferentes tons. “Quantas galinhas botaram esses ovos?”, perguntou para um senhor. “Não tenho ideia. Você tem?” Também não, mas quero saber.” “Talvez alguém saiba, só que eu não sei.”

Quando o homem se afastou, Rubinho lembrou do que disse seu avô. “Ovo é uma coisa que sai de dentro de uma galinha, que não é comida, mas tem gente que diz que sim porque tem nutriente. Mas de quem é o nutriente senão da galinha que é quem bota o ovo?”

Rubinho teve a impressão de que as bandejas transformaram-se em uma montanha quando o repositor viu o volume diminuir e acrescentou mais ovos, muitos ovos.

“Agora posso imaginar muito mais galinhas do que antes, né?”, disse pra uma mulher, que não entendeu seu raciocínio. “Com quantas galinhas se faz uma montanha de ovos?”

Quanto mais pessoas pegavam ovos, diminuindo “a montanha”, mais Rubinho estranhava. “Por que uma galinha botaria ovo pra gente? Por que alimentaria gente?”

Lembrou também que seu avô falou que é por isso que a maioria fica presa, e só sai pra passear uma vez, pra nunca mais voltar.

“Tem hora que o ovo acaba, e com ele acaba a galinha”, disse o avô. Rubinho coçou a cabeça e imaginou as galinhas desaparecendo como desaparecem as bandejas.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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