Indústria de alimentos veganos deixa a desejar

Fotos: Shutterstock

Pensei várias vezes em escrever sobre o assunto, mas fui adiando. No entanto, é algo que me incomoda há anos e, como o problema persiste, acho válido explicitar por que acredito que a indústria de alimentos veganos deixa a desejar. Bom, o foco não são os preços que, sem dúvida, também precisam melhorar.

Minha intenção também não é fazer ataques, mas apontamentos contundentes com a minha perspectiva sobre produtos identificados como veganos, plant-based, 100% vegetais, etc.

Para começar, ressalto que, para mim, os nutrientes oferecidos por um produto são importantes, independente se este é destacado ou não como saudável, mais natural, etc. Ademais, sempre leio a tabela nutricional dos produtos e seus ingredientes.

Não é novidade que a maioria das opções oferecidas no mercado hoje como alternativas aos alimentos de origem animal são promovidas por seus fabricantes como superiores às versões convencionais baseadas em animais.

Se cumprem esse papel, isso é importante para atrair não apenas consumidores veganos, mas também aqueles que estão abertos a mudanças e substituições, por motivações diversas que podem não ter relação com o veganismo.

Proteínas alternativas devem ser ricas em proteínas 

Hoje, quando se fala, por exemplo, em proteínas alternativas, em referência às alternativas à carne e aos laticínios, logo pensamos em produtos ricos em proteínas, certo? Mas e quando esses produtos não têm uma boa quantidade de proteínas ou oferecem até mais carboidratos do que proteínas, faz sentido chamá-los de proteínas alternativas?

Acho que não, porque proteína alternativa é um termo que deve ser utilizado em referência a produtos que ofereçam a mesma quantidade de proteínas de um produto convencional ou até mais, que seria o ideal, caso o objetivo seja superar as opções de origem animal. Se não oferece quantidade equivalente ou superior desse nutriente não faz sentido considerá-lo uma proteína alternativa.

Mas continuando. Tenho encontrado versões de produtos veganos que estão oferecendo até menos proteínas do que ofereceram antes, e aumentando a quantidade de carboidratos e gorduras. Tratando-se de uma proteína alternativa, isso é coerente?

Quem busca proteína alternativa, busca elevado teor de proteína, não o contrário. Também não acho que queira um produto com a mesma quantidade de gorduras da versão animal. Além disso, se queremos carboidratos, podemos recorrer sempre aos cereais.

Há hoje no mercado uma crescente variedade de alternativas ao leite e aos laticínios, e inúmeras não podem ser classificadas como proteínas alternativas. O motivo? Não oferecem boa quantidade de proteínas. Tenho visto leites vegetais sem proteínas, queijos vegetais sem proteínas, embora haja exceções. A percepção de que sabor e textura são importantes é justa, mas ignorar todo o resto é um grande equívoco, independente se esses produtos são oferecidos como mais saudáveis ou não.

Além disso, trazer no rótulo um número muito alto de ingredientes, e desconhecidos pelos consumidores, pode ser bem problemático, porque dificilmente um consumidor consciente associará tais produtos a algo “saudável”, “mais natural” ou mesmo “sustentável”, e não sem razão.

Subvalorização das proteínas 

Tenho como critério avaliar a quantidade de proteínas dos produtos, e conheço muitas pessoas que fazem o mesmo. Se preciso de um número x de proteínas para suprir minhas necessidades diárias, por que eu incluiria na minha alimentação produtos comercializados como proteínas alternativas que não contribuem de forma satisfatória com isso?

A subvalorização das proteínas no mercado de alimentos veganos ou de origem não animal é algo problemático, e não é vantajoso para consumidores que preocupam-se com esse consumo. Tenho visto algumas empresas investindo em produtos que oferecem mais proteínas do que as versões convencionais, e isso sim é um diferencial para atrair consumidores, incluindo aqueles que não são veganos ou que não têm interesse no veganismo.

Oferecer versões veganas ou plant-based precisa ir muito além de sabor e textura, embora nesse aspecto também há produtos que ainda precisam de aperfeiçoamento com urgência, já que na realidade estão distantes da prometida mimetização que tanto vaticinam.

Enfim, ignorar que alternativas aos laticínios e à carne precisam ter um elevado teor de proteínas e menos carboidratos é subestimar o consumidor e manifestar desinteresse em atrair aqueles que não comprarão proteínas alternativas que oferecem bem menos proteínas do que os produtos convencionais – ou nem mesmo ofereçam proteínas.

Avaliando as opções disponíveis em supermercados, continuo surpreso com a quantidade de alternativas à carne repletas de carboidratos. Como apontei antes, se um produto é vendido como proteína, então ele deve ser rico em proteínas, não em outros nutrientes.

 

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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