Leandro Karnal: “Os vegetarianos são insuportáveis”

Karnal compara os direitos dos animais com os direitos das cenouras (Foto: Reprodução)

Está disponível no YouTube uma palestra do professor Leandro Karnal intitulada “Os Novos e os Velhos Pecados”. Em um determinado momento, o historiador diz que “Os vegetarianos são insuportáveis. Eles ficam querendo pregar que a vaca tem direito e a cenoura não.” Quando você compara um animal com uma cenoura, você está querendo dizer que um animal sofre tanto quanto uma cenoura, ou seja, há uma banalização do sofrimento e da violência. Agora imagine o que isso pode representar na cabeça de um jovem que já não gosta muito de animais.

Bom, achei uma pena vê-lo fazendo esse tipo de comentário satírico e sem embasamento, ainda mais levando em conta que ele costuma viajar pelo país ministrando palestras sobre moral e ética. Pelo jeito, ele precisa estudar sobre direito animalista, que também versa sobre moral e ética. Karnal costuma citar filósofos gregos em suas palestras, e parece-me que ele não sabe que era comum entre eles uma alimentação isenta de carne, e por uma questão moral – o que contrapõe sua observação mais do que irônica.

Em seus artigos e palestras, também há inúmeras citações a Arthur Schopenhauer. Creio que se ele conhecesse profundamente o trabalho do filósofo alemão jamais teria ignorado o fato de que Schopenhauer escreveu que animais não são artigos fabricados para o nosso uso, de acordo com informações da página 375 do livro “Parerga and Paralipomena: Short Philosophical Essays – Volume 2 .

Animais não são meros meios para quaisquer fins. Ao pensarmos que sim, somos coniventes com a violência contra outras espécies e incentivamos a exploração animal em todas as esferas, sendo permissivos inclusive com formas inimagináveis de privação e crueldade. E esse tipo de conduta em detrimento de outros seres vivos leva a um questionamento a respeito da nossa própria moralidade que não contempla ninguém além de nós mesmos.

Schopenhauer via isso como um tipo frequente de moralidade de conveniência. Sendo assim, pode-se dizer que a moralidade conveniente ao homem não é moralidade, já que a moralidade genuína depende de você não observar somente a si mesmo e as conveniências que envolvem apenas aqueles que são de sua própria espécie.

“É uma vergonha essa moralidade digna de párias […], chandalas, mlechchas e que não reconhece a essência eterna que existe em cada coisa viva, e brilha com significado inescrutável em todos os olhos que veem o sol”, escreveu Arthur Schopenhauer na página 173 do livro “O Fundamento da Moral”, publicado em 1840.

Seria mais honesto o historiador Leandro Karnal dizer: “Dane-se os animais e os vegetarianos”, que parece ser o que ele pensa, mas não fazer piadas sobre pessoas simplesmente por serem vegetarianas. É curioso reconhecer que já vi ele falando de moralidade e citando Tolstói. Provavelmente ele não sabe que o autor de “Guerra e Paz” e “O Primeiro Passo” era vegetariano.

A segunda obra que citei, publicada pela primeira vez em russo em 1883, fala justamente da nova concepção moral que Tolstói alcançou com o vegetarianismo. Então observo com certo pesar quando alguém discorre sobre moralidade e faz chacota do vegetarianismo, já que a moralidade vegetariana preza pelo bem-estar animal. Ou seja, tenta expandir a compreensão ética e moral para além daquela que abarca somente seres humanos.

Resposta de Leandro Karnal em que ele confunde veganismo com especismo (Imagem: Reprodução)

Não é a primeira vez que vejo o Karnal cometendo esse tipo de deslize. Uma vez, quando assisti uma de suas palestras, ele confundiu esteroides anabolizantes com vitamina ADE, e usou a imagem de um rapaz para abordar o tema. Ou seja, é importante termos o cuidado de não abordarmos assuntos sobre os quais não temos conhecimento. Também é ético não expor pessoas à situação vexatória, mesmo que por meio de imagens.

O problema na atualidade é que há pensadores falando sobre assuntos que desconhecem. Seria muito mais interessante e proveitoso para todos se eles se preocupassem basicamente em transmitir informações sobre aquilo que estudaram e sobre o qual desenvolveram um raciocínio valorosamente crítico.

Algumas pessoas me disseram que o Karnal não disse nada de mais ao fazer piada sobre vegetarianos e os direitos animais, já que ele defende, mesmo que sem argumentos, o ponto de vista dele. Bom, se ele tivesse um programa de stand-up, eu não me importaria com o que ele falou. A diferença é que ele é um formador de opinião que viaja pelo país discutindo sobre moral e ética. Ademais, direitos dos animais tem tudo a ver com moral e ética. Logo se ele vai falar alguma coisa sobre isso, é importante sim estudar sobre o assunto.

Além de desconsiderar meu texto e não apresentar argumentos, Karnal continuou debochando de todos que o questionaram sobre o vídeo em que ele satiriza vegetarianos e os direitos animais. Pelo jeito, o historiador não sabe que vegetarianos e veganos, que se recusam a se alimentar de animais por uma questão moral, naturalmente defendem inclusive o direito à vida dos insetos. Parece que houve uma confusão com um entendimento particularista de especismo. Uma pena, mas cada um conhece a sua própria consciência.

“Se o problema é dor, bastaria dar sonífero para as vacas e matá-las ao som de Mozart, certo? Seria uma carne sem dor.” Muita sensibilidade vinda de alguém que discorre sobre filosofia. Ainda bem que na contemporaneidade tivemos e temos filósofos como Agostinho da Silva, Sônia T. Felipe, Peter Singer e Tom Regan, só para citar alguns, que foram e vão na contramão disso. Outro fato inesperado é que Leandro Karnal deletou os comentários de veganos e vegetarianos o questionando sobre o assunto.





Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

4 respostas

  1. Esse cara é um babaca.
    Já assisti um pouco de suas falas. Além de se achar muito melhor do que todas as outras pessoas, faz questão de mostrar isso, através, inclusive, de escárnio. Suas conclusões pseudo-inteligentes não deveriam merecer tanta atenção. Se esse cara se parece inteligente, é sinal de que estamos muito mal, as referências estão muito ruins. Não é questão de homofobia da minha parte, mas acho que não devemos enaltecer tanto esses narcisos, principalmente os, que como ele, não têm muito o que acrescentar.

  2. O obstinado defensor das cenouras… Leandro *Banal* não passa de um vendedor. Vive por aí fazendo dinheiro às custas de gente medíocre (que paga pra ver suas palestras), vomitando nada além de senso comum em tom de stand up comedy.

  3. Este individuo é no mínimo um desinformado e no máximo um populista mau carater. As dias hipoteses explicam o sucesso que ele faz por aqui. Triste.

  4. Não ia muito com ele achava já que tinha um tom prepotente que se acha a mais do que e mas pensei será que não é porque preciso conhece lo melhor ?e não acertei vendo aqui isso meu sexto sentido sempre acerta ,e vendo pessoas imitando ele no YouTube eu ri muito e vi ainda mais que estava certa e muitos pensam igual ate os mais inteligentes que eu .O cara se acha Deus , e satânico e manipula e quase um psicopata estratégico que está convencendo os menos estudados e jovens a pensar igual, o cara deve ter planos perigosos ,e usa o sufismo, precisam ver o que falam dele

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