Maior exportadora de leite leva prejuízo de R$ 1,5 bilhão

Não é a primeira vez que a Fonterra é obrigada a abrir o jogo publicamente sobre os prejuízos no setor (Foto: Animals Australia)

Sediada na Nova Zelândia, a Fonterra, conhecida como a maior exportadora de leite do mundo, divulgou na quinta-feira (24) que amargou o maior prejuízo já registrado na história da empresa – de US$ 379,34 milhões, o equivalente a mais de R$ 1,57 bilhão. A avaliação considerou os números registrados pelo período de um ano – até o dia 31 de julho.

Para tentar compensar os prejuízos, segundo a agência Reuters, a Fonterra pretende reduzir sua participação em até R$ 3,58 bilhões em ativos em países como o Brasil, Venezuela e China, se concentrando principalmente na produção leiteira na Nova Zelândia.

Não é a primeira vez que a Fonterra é obrigada a abrir o jogo publicamente sobre os prejuízos no setor. Em setembro de 2018, a multinacional revelou perda equivalente a mais de R$ 540 milhões no período de 2017 a 2018. A queda foi bem significativa considerando que de 2016 a 2017 a empresa obteve lucro de US$ 500 milhões.

Vale lembrar também que em julho do ano passado, uma investigação do Greenpeace revelou que a Fonterra estava financiando o desmatamento na Indonésia. A multinacional é a principal compradora do Palm Kernel Expeller (PKE), um subproduto do óleo de palma usado na alimentação de bovinos e produzido pela Wilmar International.

Há três anos, quando surgiu uma onda de protestos contra o impacto ambiental da fabricação de PKE na Indonésia, a Fonterra assumiu o compromisso de adotar um padrão industrial que não levasse ao desmatamento das florestas tropicais. Porém, as denúncias e a investigação deixam claro que isso nunca foi colocado em prática.

As áreas mais devastadas pelo desmatamento na Indonésia, visando a produção de PKE, se situam na Papua. “A reputação internacional da indústria de laticínios da Nova Zelândia está seriamente em jogo, assim como as últimas florestas tropicais do mundo”, informou Gen Toop, porta-voz do Greenpeace.

Com a revelação dos prejuízos e o anúncio de redução de participação no mercado brasileiro pouco tempo após as recentes controvérsias envolvendo o desmatamento e as queimadas na Amazônia, há quem esteja se questionando se a medida adotada pela Fonterra não é uma estratégia para evitar algo muito pior, considerando o seu histórico de financiamento do desmatamento em países em desenvolvimento.

Fazendas leiteiras dão lugar às plantações de abacate na Nova Zelândia

No Norte da Nova Zelândia as fazendas leiteiras estão dando lugar às plantações de avocado, um abacate menor, com casca mais escura e mais rico em nutrientes.

Essa informação é confirmada por Georgina Tui e Mate Covich, que atuavam no ramo de produção de leite no país e decidiram vender suas terras para produtores de abacate.

De acordo com o portal global agrícola Fresh Plaza, três outras fazendas leiteiras da península de Aupouri, perto de Kaitaia, no noroeste da Nova Zelândia, também foram vendidas e estão se transformando em pomares de abacateiros.

O que tem ajudado na transição é que o solo e o clima são bastante favoráveis às plantações de avocado, incluindo o fácil acesso à água. A diretora executiva da NZ Avocado, associação que representa os produtores de abacate no país, Jen Scoular, disse que o futuro da fruta é bastante animador.

“Estamos confortáveis ​​com a demanda global favorecendo o aumento das plantações e estamos felizes em ver o investimento contínuo em abacates”, informou Jen ao Fresh Plaza.

Com uma demanda global por abacates aumentando em cerca de 10% ao ano, agricultores da Nova Zelândia viram na fruta um bom negócio enquanto a produção leiteira se torna cada vez menos lucrativa.

James Cameron defende redução do consumo de carnes e laticínios na NZ

Em maio, quando participou do Just Transition Summit, em New Plymouth, na Nova Zelândia, o cineasta James Cameron e a ambientalista Suzy Amis defenderam que para valorizar uma economia de baixa emissão de carbono é importante priorizar a produção de alimentos de origem vegetal e reduzir drasticamente a produção de alimentos de origem animal no país.

Cameron, que é diretor e roteirista de filmes como Alien, O Exterminador do Futuro, Titanic e Avatar, disse que só o setor de laticínios responde por 22% das emissões de carbono enquanto a agropecuária é responsável por 48%.

O casal, que atualmente vive em uma fazenda de cinco mil hectares no sul de Wairapapa, onde cultivam vegetais orgânicos, incluindo frutas e oleaginosas, enfatizou que não adianta falar em economia de baixa emissão de carbono e ignorar a importância de uma mudança nas nossas relações de consumo, na produção de alimentos e nos hábitos alimentares.

Suzy Amis declarou que seria mais econômico investir na produção de vegetais do que na criação de animais para consumo – e citaram a própria experiência no cultivo de vegetais e na produção de proteínas de origem vegetal, como parte do trabalho que desenvolvem com a Verdient Foods, no Canadá. “Podemos alimentar muito mais pessoas e cuidar melhor da terra, do ar e da água”, reforçou.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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