Manejo é um termo especista

Manejo é um termo estranho e especista. Não se fala em manejo de humanos, mas comumente se fala em manejo de outros animais – pela crença de que outros animais existem para que sejam “manejados” pelos humanos. Mesmo defensores dos animais utilizam o termo manejo.

Em qualquer dicionário está claro que o manejo vincula-se ao uso instrumentalizado dos animais visando algum tipo de “ganho humano”, ainda que seja discutível esse sentido de “ganho”. Alguém pode dizer que isso é somente problematizar uma palavra, um termo, uma ideia, e que o que importa não é isso.

Discordo. A linguagem é meio de estabelecer a diferença que favorece o uso dos animais. Manejo, se consideramos ao que se refere seu uso mais comum, é associado majoritariamente à exploração – porque manejar é eufemismo para explorar. Exemplo disso é o termo “manejo eficiente” tão utilizado no contexto da pecuária.

Manejo não é utilizado tanto em nenhum outro contexto que não seja do uso de animais para fins humanos. O que permite problematizar um pouco mais é que manejo também, e por conveniência, costuma ser usado tanto em relação ao que já não é vida quanto ao que nunca foi vida, como “manejo de produtos”.

Mesmo o manejo ecológico dos animais não escapa à manutenção de uma estranha diferença em que os animais não humanos são pensados não como indivíduos, mas como parte de um contexto ecológico ou ciclo ecológico.

Mesmo nos exemplos em que isso ocorre de outra forma, ainda são pensados como “outros”; e que por isso atribui-se um pensar como “quem se maneja”. “Manejo” é termo de afastamento, de separação, mesmo quando se usa para outra significação. Surge como camuflagem, eufemismos para práticas obliterativas, logo destrutivas, extenuantes.

“Manejo” nunca deixa de parecer que não é sobre vidas, e pelo que apontei antes em relação ao não uso desse termo, e porque não deixaria de gerar estranheza, se fosse comumente utilizado em referência a humanos. Quem fala em “manejo responsável de humanos”? Mas há pessoas que veem com bons olhos esse uso em relação a outros animais. “Manejo” nunca afasta uma dimensão de inconsideração pelo que é inerente ao seu sentido.

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