Marcinha lamentou pelo frango no açougue

Ilustração: VectorStock

Marcinha viu quando a mãe colocou um frango pequeno dentro do carrinho do supermercado. Ficou olhando o plástico que cobria a carne que cobria os ossos.

As mãos ficaram geladas enquanto revirava o frango, de um lado para o outro, observando com atenção cada parte. Peito, asas, coxas… Era um corpinho pálido, pelado, sem vida há mais de 24 horas.

Observou muitos pontinhos onde antes havia muitas penas. Com mínimo de atenção, qualquer um pode percebê-los. Lembrou dos frangos que viu em desenhos animados. Pareciam sempre felizes.

Não imaginava como um frango sem vida e sem cabeça poderia estar contente. Enquanto a mãe escolhia algo na seção de frios, a menina desapareceu e o frango também.

Desesperada, a mãe pediu que um funcionário anunciasse Marcinha, chegando a todos os alto-falantes da loja. Ela estava em frente ao açougue, pedindo que devolvessem a cabeça do frango. “Por favor, ele precisa da cabeça dele”, repetia.

As reações diante da situação variaram. Consegue imaginar como foi? Mas para Marcinha só o frango importava. O açougueiro, sem saber o que dizer, apenas levantou as mãos, em sinal de incompreensão.

Marcinha lembrou do episódio de um desenho em que um frango viveu sem cabeça por dias. Com as mãos ainda geladas, o colocou no chão e fez pressão contra seu peito gelado várias vezes, tentando reanimá-lo. Sua mãe explicou que já não havia um coração ali. “Sinto muito, filha…”

Ela não disse que estava junto de muitos outros, em uma bandeja de miúdos de aves. E quem diria? Marcinha lamentou e aceitou que o frango já não viveria, e sua mãe decidiu não levá-lo, reconhecendo que os corpinhos pálidos, pelados e gelados continuarão à venda no açougue enquanto houver pessoas dispostas a comprá-los.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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