Ficino teria influenciado da Vinci a não consumir carne

“As discussões com Ficino poderiam ser a forma como Leonardo da Vinci chegou ao vegetarianismo” (Imagens: Reprodução)

Nascido em Florença em 19 de outubro de 1433, o filósofo e humanista Marsilio Ficino, importante nome do renascimento italiano e mestre de Giovanni Pico della Mirandola, foi um dos principais divulgadores das ideias de Platão, Plotino e Pitágoras no século 15. Por influência desse trabalho baseado nas obras dos filósofos da Grécia Antiga, ele começou a refletir sobre o consumo de animais e se absteve de comê-los.

Filho de Diotifeci d’Agnolo, médico da Casa dos Médici, Ficino teve o privilégio de se dedicar integralmente aos estudos. De acordo com informações do livro “The European Renaissance – 1400-1600”, de Robin Kirkpatrick, publicado em 2002, Marsilio Ficino recebeu todo o apoio de Cosimo de Médici, o fundador da dinastia Médici, para traduzir e discutir os textos platônicos. Com o apadrinhamento da família mais importante de Florença à época, Ficino teve grande incentivo para discutir questões controversas como as implicações do consumo de carne.

Mais tarde, assumiu também a posição de tutor do estadista Lorenzo de Médici, conhecido como Lorenzo Il Magnifico. Segundo o livro “Murder in Renaissance Italy”, de Trevor K.P. Lowe, lançado em junho de 2017, Marsilio Ficino traduziu a obra “Da Abstinência do Alimento Animal”, de Porfírio, servindo de referência para estudos sobre vegetarianismo. Ficino também conhecia muito bem as questões antes discutidas por Pitágoras, autor de uma frase que sobreviveria ao tempo e se tornaria emblemática:

“Enquanto o ser humano for implacável com as criaturas vivas, ele nunca conhecerá a saúde e a paz. Enquanto os homens continuarem massacrando animais, eles também permanecerão matando uns aos outros. Na verdade, quem semeia assassinato e dor não pode colher alegria e amor.”

Ficino liderou a Academia Platônica de Florença, que também influenciou muitos artistas e pensadores da época, como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Sandro Botticelli. Há estudiosos que defendem que da Vinci era vegetariano, e por influência de Ficino.

“Leonardo passou pelos mesmos círculos intelectuais de Ficino e também explorou a nova filosofia do vegetarianismo baseada na crença dos pitagóricos”, escreveu D.A. Brown no livro “Leonardo da Vinci: Origins of a Genius”, publicado em 1998. De acordo com Brown, Ficino e da Vinci se conheceram por intermédio do humanista, historiador e cardeal Bernardo Bembo.

“A maioria dos estudiosos do trabalho de Marsilio Ficino concorda que ele era vegetariano. Ele certamente recomendou o não consumo de carne. Sua defesa do vegetarianismo mais frequente envolvia os pitagóricos. As discussões com Ficino poderiam ser a forma como Leonardo da Vinci chegou ao vegetarianismo”, registrou Lowe na página 292 de “Murder in Renaissance Italy”. Platão, que o italiano tinha como principal referência filosófica, idealizava em “A República” uma cidade onde as pessoas não se alimentassem da matança de animais, o que despertava identificação em Marsilio Ficino.

“Theologia Platonica”, uma das obras mais importantes de Ficino foi publicada em 1482. O seu período de maior produção filosófica começou em 1474 e terminou em 1494. Ele também escreveu “De Amore”, lançado em 1484; e “De Vita Libri Tres”, publicado em 1489.

A crítica de Leonardo da Vinci ao consumo de animais

Há críticas de Leonardo da Vinci que são uma prova de sua oposição à exploração de animais. Estas foram publicadas na obra “Quaderni D’Anatomia – I-VI”, preservada pela Biblioteca Real de Windsor. Ove C.L.Vangensten, A. Fonahn, H. Hopstock. Christiana: J. Dybwad. Edição de 1911-1916:

“Rei dos animais, como o próprio homem se descreve, eu devo dizer que sim, você é o rei dos animais. És o maior que, além de ajudá-los, aproxima-se deles para que possam gerar filhos que saciem seu paladar, assim criando sepulturas para todos os animais. E devo dizer mais, se me for permitido dizer toda a verdade, você não acha que a natureza já produz alimentos o suficiente para que se satisfaça? E se não estás contente, saibas que ela oferece tanta diversidade que lhe permite criar uma infinita combinação de ingredientes.”

Da Vinci, que nasceu em 15 de abril de 1452 e faleceu em 2 de maio de 1519, foi uma das figuras mais proeminentes e polivalentes do Renascimento. Atuou como escultor, pintor, arquiteto, poeta, músico, botânico, anatomista, inventor, engenheiro, matemático e cientista.

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Marsilio Ficino foi ordenado sacerdote em 1473. Livre de amarras intelectuais, ele se interessava pela vida de Zoroastro e Orfeu. O filósofo e humanista florentino faleceu em 1º de outubro de 1499.

Referências

Kirkpatrick, Robin. The European Renaissance – 1400-1600. Página 88. Routledge; First Edition (2001).

Lowe, Trevor K.P. Murder in Renaissance Italy. Página 292. Cambridge University Press (2017).

Brown, David Alan. Leonardo da Vinci: Origins of a Genius. Páginas 118-120. Yale University Press (1998).

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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