Na produção leiteira, saúde da vaca não está em primeiro lugar

O ser humano gera o problema e ainda age como se o prejuízo fosse provocado pela vaca (Fotos: Shutterstock)

Não é difícil reconhecer como estamos imersos em uma cultura especista, que encara os animais não humanos como nada mais do que produtos, quando cientistas ligados à saúde animal apontam como principal prejuízo da mastite, uma grave inflamação das glândulas mamárias, a queda na produção de leite da vaca.

Será que a saúde da vaca deveria ficar em segundo plano? Não em uma perspectiva mais justa. Em um artigo sobre produção de leite e contagem de células somáticas em vacas leiteiras, intitulado “Milk Production and Somatic Cell Counts: A Cow-Level Analysis”, de J.K. Hand, A. Godkin e D.F. Kelton, publicado no Journal of Dairy Science, os pesquisadores citam como piores consequências da mastite a baixa na produção, o que consequentemente leva ao “descarte” (esta foi a palavra usada) das vacas.

Sim, as vacas que não atingem sua meta na produção de leite são mortas. E, claro, muitos outros artigos seguem na mesma esteira. Também são citados os “grandes” e indesejados gastos com tratamento de infecções severas. Curiosamente, muitas das infecções que atingem as vacas estão associadas ao ritmo de exploração industrial. Ou seja, o ser humano gera o problema, que incorre em sofrimento para o animal, e ainda age como se o prejuízo fosse provocado pela vaca.

Será que não deveríamos repensar essa questão, a nossa relação de conveniência e subjugação que culmina sempre na morte dos animais? Além disso, talvez seja relevante considerar que o leite é um alimento produzido pela vaca para alimentar o seu filho, ou seja, um bezerro, não um ser humano.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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