Ministro diz que agropecuária no Brasil está “alinhada à sustentabilidade”

“O Brasil é essa potência agroambiental que o mundo quer” (Fotos: Mapa/Greenpeace)

Embora o desmatamento no Cerrado tenha crescido 28% até julho, de acordo com o Sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais; e a área de alertas de desmatamento na Amazônia só em julho seja equivalente à área da cidade de São Paulo, também segundo dados do Inpe, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Marcos Montes Cordeiro, declarou que o Brasil é uma “potência agroambiental”.

Ignorando esses dados associados à expansão agropecuária, Montes afirmou que a “produção agropecuária é feita em alinhamento com a sustentabilidade”. Também declarou que o Brasil “é uma das poucas nações com capacidade de atender a demanda mundial por alimentos nas próximas décadas”. Ou seja, associando essencialmente a demanda por alimentos com a pecuária.

“O Brasil é essa potência agroambiental que o mundo quer. Vamos produzir para alimentar com sustentabilidade, servindo de modelo ao mundo”, reforçou o ministro no Encontro Nacional do Agro, realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), federações estaduais, sindicatos e associações vinculadas à agropecuária.

Segundo o Greenpeace, a pecuária na Amazônia brasileira é responsável pela destruição de um em cada oito hectares. A Fundação Joaquim Nabuco já publicou que a atividade responde por 65% do desmatamento da Amazônia. Já a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) aponta que 80% do desmatamento foi provocado pela conversão de terras em pastos e produção de grãos destinados à alimentação de animais criados para consumo.

Em 2018, os pesquisadores Thomas Lovejoy, da George Mason University, dos Estados Unidos, e o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, Carlos Nobre, publicaram na revista Science o artigo “Amazon Tipping Point”.

No estudo, eles enfatizam que além do desmatamento que já havia chegado a um milhão de quilômetros quadrados, outro fator que tem impactado muito no ciclo hidrológico amazônico é o uso indiscriminado do fogo por agropecuaristas durante períodos secos, visando a formação de lavouras e pastagens.

Não é novidade que a maior floresta tropical do mundo tem sofrido as consequências da agropecuária, e não apenas pela associação da atividade com o desmatamento e destruição de habitat de fauna, assim aproximando espécies de animais da extinção, mas também porque muitas áreas amazônicas ocupadas pela agropecuária já estão comprometidas pelo mau uso da terra – assim como aconteceu em outras regiões do país.

Segundo a Embrapa, só na Amazônia Legal cerca de 40% das pastagens estão degradadas ou em processo de degradação. Isso permite ponderar que a agropecuária não tem apenas derrubado a mata nativa e assim contribuído com as emissões de gases do efeito estufa no Brasil, conforme dados do Observatório do Clima, mas também danificado o solo, inclusive o tornando pobre e até mesmo improdutivo.

Outro problema mais específico e normalmente subestimado em relação ao impacto ambiental da atividade no Brasil é que cada bovino libera de 30 a 50 galões de metano por dia. Esse gás do efeito estufa, que também é liberado por suínos, ovinos e caprinos, foi apontado em 2017 pela Agência Espacial Americana (Nasa) em artigo publicado na revista científica Carbon Balance and Management (CBM) como até 30 vezes mais potente do que o dióxido de carbono.

Na conclusão, o estudo sugere que embora o metano gerado pelo gado não seja a fonte dominante de emissões globais, pode ser o principal contribuinte para os recentes aumentos nas emissões de metano no mundo todo. E ao favorecer as mudanças climáticas, pode contribuir com a intensificação das secas que empobrecem os pastos pela ausência de ciclos de chuvas nos períodos desejados. Sendo assim, a pecuária também pode ter se tornado o grande problema da pecuária.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *