Não é ser submetido a uma prisão ser criado para beneficiar animais de outra espécie?

Foto: Lukas Vincour

Não é ser submetido a uma prisão ser criado para beneficiar animais de outra espécie? O conceito de benefício atrelado ao consumo também pode ser questionado se esse benefício é também um malefício.

Não penso em prisão somente como espaço físico, de onde o animal não deve sair, mas também nas formas de imposição que suprimem e reprovam manifestações, comportamentos e estados de ser.

Determinar como um animal deve viver e morrer é parte do processo de aprisionamento. E por que não entender o limitar como uma forma diversa de aprisionar?

Há uma crença de que é possível obter dos animais o que queremos sem precisar aprisioná-los, proporcionando o que comercialmente é chamado de “liberdade”.

O conceito de “animal criado livre”, por exemplo, é incompatível com qualquer realidade condicionada em benefício humano, porque se esse animal existe para um propósito comercial, sua liberdade é uma ausência.

Afinal, não é a produtividade que está atrelada a essa falsa liberdade? Um animal criado para propósitos humanos não está sempre sendo avaliado sob uma perspectiva que nada tem a ver com um inerente interesse não humano?

Um animal que nasce para a cadeia de consumo humano é uma criatura aprisionada, e sobre ela pesam as expectativas de compensação em relação à sua presença no mundo.

Essas expectativas estão vinculadas às imposições. Por isso há sempre um nascer e um morrer aprisionado, e normalizamos essas prisões que ignoramos como prisões.

Chamamos de “livres” os animais que estão fora de gaiolas ou do que definimos como “confinamento”, ignorando que eles nascem confinados às nossas vontades.

Um animal pode correr por um grande espaço, e posso dizer que ele parece “sentir-se bem”, mas se o que espero dele é geração de produtos e lucro, e se sua vida é baseada nas minhas determinações, assim como seu fim, como posso não reconhecer seu aprisionamento?

A própria ideia de criar um animal para que ele possa nos servir é confiná-lo a uma prisão que está além de um espaço físico. E se ele existe para corresponder a um volume de produtos, a sua condição biológica é também expressão intrínseca de aprisionamento.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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