Nina Carlson: “Me tornar vegana foi a decisão mais importante da minha vida”

Nina: “A alimentação vegana pode ser nutricionalmente adequada para todos, praticantes ou não de musculação” (Fotos: Divulgação)

Ainda hoje, quando se fala em veganos e a musculação, não é incomum alguém perguntar: “Mas e as proteínas?”, como se fosse impossível obter bons resultados em uma academia sem o consumo de proteínas de origem animal e também sem o uso de esteroides anabolizantes. No entanto, a cada dia surgem mais exemplos de entusiastas e atletas que provam que com boa vontade e disciplina quem adotou o veganismo desconhece obstáculos. De Sorocaba, Nina Carlson, de 27 anos, é uma prova disso.

Graduada em gestão ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), e hoje cursando educação física com o objetivo de atuar profissionalmente como personal trainer, Nina se tornou vegetariana com 13 anos e vegana aos 18 anos. O motivo? Não concordar com a exploração e a morte de animais para uso e consumo. “Era uma questão conflitante pra mim, portanto virei vegana. Só assim pude ficar em paz com a minha consciência”, justifica.

Como um exemplo de que o estilo de vida vegano pode ser tão benéfico para os animais quanto para as pessoas, Nina Carlson começou a praticar musculação em 2014, a princípio como uma forma de terapia, mas não demorou para chamar atenção pelos resultados estéticos.

“Minha prioridade é sempre ser uma voz que fala pelos animais. Meu objetivo é conseguir desenvolver cada vez mais meu corpo e ajudar outras pessoas também a desenvolverem o corpo delas, sem que ninguém saia ferido para esse propósito”, enfatiza. Em entrevista ao VEGAZETA, Nina fala sobre a sua transição para o vegetarianismo, veganismo, musculação e alimentação, além de outros assuntos. Confira:

Por trás da sua transição para o vegetarianismo ou veganismo, há alguma história, imagem, vídeo ou texto?

Virei vegetariana depois de ver o clipe de uma banda “Makazumba – Inocência”. Tanto as imagens do clipe quanto a letra da música impactaram decisivamente na minha vida. Eu não podia mais participar daquilo.

Você diz que a musculação, assim como o boxe, te salvou. Faz sentido dizer que a musculação entrou na sua vida como uma forma de terapia?

Sim, sem dúvidas. Quando comecei a praticar musculação eu estava em uma fase muito difícil da minha vida. Como eu já havia passado por algo semelhante e conseguido sair daquela situação por meio do esporte, pensei que dessa vez também poderia me ajudar, e foi o que aconteceu. No primeiro momento foi algo que busquei principalmente para a minha saúde mental, mas refletiu também melhorando a minha autoestima.

E como as pessoas reagiam na academia quando você dizia que não se alimentava de animais? Chegou a ser subestimada? Imagino que com o tempo isso mudou pelo menos um pouco…

No início, sim, as pessoas diziam que não seria possível eu ganhar massa muscular sendo vegana. Porém, comecei a ter resultados e os resultados falaram por si em relação a isso.

Demorou pra ter os primeiros resultados? Alguma vez pensou que não conseguiria obter bons resultados sem proteínas de origem animal?

Nunca pensei, porque eu tinha alguns exemplos de atletas veganos a seguir. Já nos primeiros meses comecei a ver resultados e então achei que essa seria uma boa forma de quebrar o paradigma da proteína vegetal. A partir daí, comecei a me dedicar cada vez mais.

Disposição, condicionamento, força – uma alimentação livre de ingredientes de origem animal te impediu de conquistar algo nesse sentido?

De forma alguma, tanto que considero meu desempenho na musculação muito bom, tanto em relação à força quanto à disposição. Vou pra academia de segunda a sábado e já cheguei a ir todos os dias da semana.

Demorou para encontrar uma dieta adequada ao seu objetivo? Foi fácil conseguir ajuda profissional? Você tinha conhecimento de suas necessidades individuais com relação a macronutrientes?

Demorou um pouco pra eu aprender sobre os macronutrientes e como manter minha alimentação balanceada, é tudo uma questão de estudos e prática também, pra saber o que funciona melhor pra nós. Não tenho ajuda profissional, faço tudo por conta, porém recomendo que quem não tenha conhecimentos sobre nutrição procure um profissional da área.

Sei que você participou da sua primeira competição de fisiculturismo no ano passado. Como foi essa experiência?

Participei apenas de uma por enquanto, foi no começo do ano passado em São Paulo. Me precipitei ao competir tão cedo, porque eu tinha menos de três anos de treino e sou atleta natural. Então além do pouco tempo de treino para o fisiculturismo, acabei perdendo muita massa magra no processo de perda de gordura e ficando muito “pequena” pra categoria. Em todas as situações da vida, por mais difíceis que sejam, busco levar uma lição positiva e nesse caso não foi diferente. Aprendi muito com os meus erros, portanto não me arrependo de nada.

Sua alimentação atualmente é mais baseada em quais alimentos? Você faz quantas refeições por dia? O que muda na sua alimentação da fase de bulking (fase de ganho de massa muscular) para cutting (fase de queima de gordura), além da redução de calorias e carboidratos?

Eu como de tudo: grãos, macarrão, frutas, verduras, legumes, é bem rica. Faço cerca de seis refeições por dia. Na fase de bulking, não faço um controle tão grande de ingestão de alimentos, busco me alimentar de maneira saudável. Já no cutting, há uma restrição severa de alimentos, portanto a suplementação de macros e micros deve ser mais intensa para minimizar os possíveis riscos à saúde.

Quais exercícios você considera essenciais no seu programa de treino?

Os multiarticulares (leg press, agachamento e suas variações e levantamento terra) estão sempre na minha rotina de treinos para membros inferiores. Para membros superiores, pulley, barra fixa, remadas (baixa, cavalinho, curvada), elevações (lateral e frontal). Busco fazer vários exercícios livres.

Se pudesse voltar no tempo, que tipo de dica você daria a si mesma quando começou a praticar musculação?

Priorizar a técnica em vez da força, pra preservar minhas articulações e não ter pressa.

Você acredita que grupos de musculação vegana em mídias sociais e contas no Instagram têm contribuído substancialmente para as pessoas darem uma chance para o veganismo?

Com certeza, sim. Porém, acredito que algumas pessoas acabam se desviando do principal propósito do veganismo, que são os animais. Se a pessoa vira “vegana” pensando em um resultado estético, por exemplo, ela não entendeu que no veganismo os animais vêm em primeiro lugar. Resultados estéticos ou de saúde podem ser consequência.

Há alguma desculpa aceitável para quem pratica musculação não dar uma chance para o veganismo?

Não há.

O que você diria para mulheres que praticam musculação, mas têm receio de abandonar os alimentos de origem animal?

O mesmo que digo para os homens, que a alimentação vegana pode ser nutricionalmente adequada para todos, praticantes ou não de musculação.

O que significa pra você ser vegana?

Me tornar vegana foi a decisão mais importante da minha vida. Ela norteia praticamente todas as outras decisões que tenho que tomar, sempre tentando ser a melhor versão de mim mesma e divulgar a causa animal o máximo que eu conseguir.

Você pode acompanhar Nina Carlson no Instagram e/ou no Facebook:

www.instagram.com/ninacarlson

www.facebook.com/NinaCarlsonVegan

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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