O que pensamos sobre um animal que foge a caminho do abate?

Foto: Robin Loznak

Se um animal a caminho do abate consegue fugir, ele pode ser visto de duas formas – como alguém que merece a libertação ou como alguém-algo que deve encontrar seu fim para que um interesse de lucro/consumo não seja obstruído.

Um dos entendimentos é de que alguém o criou, destinou-lhe recursos até um determinado momento e, portanto, tem direito de domínio sobre seu corpo. Por isso, mesmo quando um animal foge de um matadouro, todos os esforços são concentrados em garantir que esse animal não inviabilize seu fim, que seja capturado e executado, independente de sua resistência.

Nessas ações há sempre um número diverso de participantes, e envolve também agentes públicos, voluntários – que reforçam em primeiro lugar “um esforço por sua não vida”, “a destinação para onde seria destinado”.

Então toda essa diversidade de personagens não é apenas sobre “lidar com uma situação de um “animal solto que pode ser um risco às pessoas”, mas também “lidar com um animal que está livre e que não pode existir para ser livre”.

Afinal, mesmo que esse animal fugisse, porém estivesse em algum lugar parado como uma estátua, calmo e longe do público, sua captura e destinação ao abate não se alteraria, e por causa da crença de que ele existe para não existir, porque não é reconhecido como um animal de atribuição não espoliativa, que não deve ser explorado.

Ele nasce sob uma materialização de “estado transitório de compensação”, porque os recursos usados no seu desenvolvimento, ou seja, na “otimização de sua carcaça” como produto, são cobrados a partir da concretização de seu imposto fim, que é determinado para a obtenção de lucro.

Claro, podemos fazer oposição ao seu fim, mas que profundidade tem isso e quais são seus limites quando a atenção é voltada a um animal e não à realidade que ele representa?

De repente, simpatizamos com esse animal porque reconhecemos nele “uma vontade de viver”, o que costuma ser dito em relação a animais que fogem a caminho do abate. Porém essa observação não reforça uma percepção exclusivista, de que os que não fogem então anseiam por morrer?

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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