Obra afeta área que abriga 1,3 mil animais silvestres em Jundiaí (SP)

“São animais em reabilitação e que podem vir a óbito também pelo que chamamos de miopatia de estresse em consequência do barulho” (Fotos: Associação Mata Ciliar)

Obras de saneamento do Departamento de Água e Esgoto (DAE), de Jundiaí (SP), tiveram início ontem (3) em uma área onde há décadas funciona o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres da Associação Mata Ciliar.

No local, há 1,3 mil animais abrigados e a maior preocupação da entidade é o impacto que isso terá na vida de inúmeras espécies, já que a obra prevê desmatamento e ainda afeta a rotina dos animais que terão de conviver com maquinários pesados e muito barulho.

“São animais em reabilitação e que podem vir a óbito também pelo que chamamos de miopatia de estresse em consequência do barulho”, informa a associação.

“Nossa entidade de forma alguma é contra a realização dos trabalhos de saneamento, mesmo porque, a própria Associação Mata Ciliar seria uma das beneficiadas. Contestamos sim a forma como a obra nos foi imposta, sem uma prévia discussão sobre as possíveis alternativas para minimização dos impactos”, argumenta.

“Não houve mais qualquer contato”

Segundo a associação, eles participaram de duas reuniões sobre as obras de saneamento na localidade, mas há dois anos, quando apontaram que tipo de impacto isso causaria.

“Não houve mais qualquer contato e, de repente, recebemos uma notificação que informava que em cinco dias as obras começariam.”

A entidade também revela que questionou a Prefeitura de Jundiaí no dia 10 de fevereiro sobre a obra, mas diz que até hoje não obteve nenhum tipo de resposta.

“Ontem (3) fomos surpreendidos com máquinas e funcionários já executando o desmatamento que só foi suspenso depois que a nossa equipe interviu forçosamente”, frisa.

E acrescenta: “Dessa forma buscaremos todos os meios ao nosso alcance para que essa obra seja revista e que os órgãos competentes, licenciadores e fiscalizadores possam reparar esse mal que está sendo cometido”.

Autorização do governador João Doria

Segundo a Associação Mata Ciliar, o problema se tornou mais real no dia 25 de novembro de 2020, quando o governador João Doria emitiu o Decreto Estadual Nº 65.305 dando servidão administrativa a favor do Departamento de Água e Esgoto (DAE).

Isso significou autorização de uso de parte da área em que está localizada a Associação Mata Ciliar para implantação de uma canalização – interceptor de esgoto no Córrego Bonifácio.

“Tal obra é de grandes proporções e em nenhum momento foi levado em consideração fatores de suma importância, como o levantamento de fauna que o próprio DAE apresentou, que demonstra a rica biodiversidade local, contando inclusive com espécies de vida livre que são ameaçadas de extinção”, critica a entidade, que cita também que faz parte da obra a derrubada de mata nativa em processo de regeneração.

“Isso inclui uma mata recuperada pela associação em seus 26 anos no local. Tal mata também conta com TACs (Termos de Ajustes de Conduta) diversos, que sendo uma compensação ambiental por danos anteriores de empresas, é absurda sua derrubada.”

Em um abaixo-assinado, a entidade pede apoio contra a continuidade das obras da maneira como estão sendo conduzidas. Clique aqui para acessá-lo.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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