Liga Animal Palestina acusa israelenses de “vegan washing”

A PAL afirma que elementos da cultura palestina estão sendo reconhecidos apenas como parte da cultura israelense (Acervo: PAL)

A Palestinian Animal League (Liga Animal Palestina) publicou recentemente um artigo intitulado “Israel, the first world country with vegan washing?”, em que acusa os israelenses de utilizarem práticas como “vegan washing” e “hasbará” como forma de propaganda para desviar o foco do conflito israelense-palestino. Leia o artigo na íntegra:

Israel tem sido descrita como um “paraíso vegano” e acredita-se que tenha a maior população vegana do mundo. Também tem sido dito que o movimento vegano em Israel começou como parte integrante da luta pela justiça e contra todos os tipos de opressão, incluindo a ocupação e colonização da Palestina. No entanto, o discurso vegano israelense não parece colidir com o sionismo.

Pelo contrário, Israel está usando o “vegan washing” para encobrir os danos que está causando à vida dos palestinos e ao veganismo na Palestina, e agora está ganhando apoio internacional de veganos famosos, que se tornaram intencionalmente ou não ferramentas no jogo do “vegan washing” do “paraíso vegano”!

A “Vibe Israel”, por exemplo, é uma organização israelense criada para “conectar os millennials [geração Y] positivamente com Israel e inspirá-los a compartilharem a história de Israel”, e promover Israel como um país moderno e pacífico com “vantagens competitivas”, mas cercado por vizinhos malignos. isto é, os palestinos e outros árabes, que insistem em prolongar o conflito sem razão aparente ou provavelmente por uma razão que apenas a “Vibe Israel” pode explicar aos millennials.

E como parte dessa nova campanha de marketing, a “Vibe Israel” convidou proeminentes blogueiros veganos para visitarem o que eles descreveram como “o Império Vegano chamado Israel”. Infelizmente, tais campanhas estão sendo recebidas positivamente pela comunidade vegana internacional, ignorando o elefante palestino na sala, e desconsiderando uma ocupação de sete décadas, roubo e apropriação da cultura e história da Palestina.

Aparentemente, a ocupação sionista da Palestina não evitou o roubo da terra e de recursos naturais, e [ainda] se expandiu para se apropriar do traje folclórico do país, da herança cultural e da culinária tradicional. Pessoas que estão familiarizadas com o contexto palestino-israelense provavelmente já testemunharam como Israel está reivindicando quase tudo que é palestino como propriedade de Israel. Os ocupantes colonizaram a Palestina, chamando a maior parte dela de Israel, e então começaram a apropriar-se da cultura e da história alegando que os recursos naturais e culturais nativos, incluindo animais, comida, música e trajes, são israelenses.

Por exemplo, o cão de Canaã foi reconhecido como a “raça nacional de Israel” e Falafel e Hummus estão sendo amplamente promovidos como cozinha israelense. Certamente, o colonizador não pode sobreviver sem mentir sobre tudo, o tempo todo. É isso que Israel tem feito desde a sua declaração há 70 anos, velando sua história sombria e sua duradoura opressão contra os palestinos promovendo boas ações como as vantagens competitivas do pacífico paraíso ecológico chamado Israel.

Israel está realmente utilizando todos os movimentos sociais que estão surgindo para melhorar a sua imagem em nível internacional. O novo programa “Vegan Birthright” é um exemplo de como o governo israelense explora o veganismo e o utiliza a serviço do colonialismo. “Birthright Israel” é um programa criado em 1999 que enviou mais de 500 mil jovens judeus adultos em uma viagem gratuita de dez dias a Israel, em nome do fortalecimento da identidade judaica e da conexão com o Estado judeu.

Qualquer judeu, de qualquer país do mundo, pode ter acesso a essa viagem gratuita e, além disso, à cidadania automática, se escolher emigrar para Israel. Recentemente, uma viagem do “Vegan Birthright” foi adicionada ao programa “Israel for Vegans”. Esse programa também promove Tel Aviv como “Uma Líder Mundial Vegana”, e essa descrição pode ser vista em muitos blogs de veganos que visitaram a cidade e ficaram impressionados com o quão vegana ela é. Muito provavelmente, o que torna uma cidade vegana para essas pessoas é ter ótimos restaurantes veganos!

Da mesma forma, o Hasbará, uma forma de propaganda que visa disseminar informações positivas sobre Israel e suas ações, realmente mobilizou um exército de mídias sociais. Usuários pró-Israel ou os blogueiros veganos convidados para participarem do programa israelense comentam os anúncios da “Vibe Israel” com declarações similares:

“Israel é um centro global para o veganismo e além da tradicional comida israelense tem restaurantes veganos incríveis de todos os tipos.” Vale ressaltar que quaisquer outros comentários que se opõem a esse ponto de vista estão sendo deletados e alguns comentaristas foram impedidos de comentar ou responder nas páginas e publicações da “Vibe Israel” e de outros blogueiros veganos [que apoiam o programa].

Muitas pessoas não estão cientes do fato de que Israel é um dos maiores consumidores de carne do mundo, com mais de 80 quilos de carne per capita por ano, e é de longe o maior consumidor de aves do mundo, com 57 quilos de frango per capita por ano. Vale a pena mencionar que, de acordo com um artigo de 2015 publicado no jornal israelense Haaretz, enquanto 3% dos judeus israelenses são veganos, o número de veganos na Palestina é duas vezes maior.

No mesmo contexto, os testes em animais estão em alta em Israel, e metade envolve a máxima dor permitida. Quase todos os animais são mortos após os testes. Portanto, além do movimento vegano em Israel estar sendo usado para desviar a atenção internacional da ocupação prolongada da Palestina e de suas manifestações sobre os direitos humanos, as alegações de que Israel é um “paraíso vegano” não são verdadeiras se você olhar para a situação dos animais em Israel e para as contínuas ofensivas do Exército israelense contra animais humanos e não humanos Palestina. A guerra em Gaza é um exemplo.

Moralmente falando, grande parte da produção de produtos veganos de [Israel] ocorre nos assentamentos israelenses ilegais dentro dos Territórios Palestinos, onde uma quantidade significativa da agricultura israelense é cultivada. Isso representa um dilema moral para os veganos que também são ativistas dos direitos humanos, já que muitos dos alimentos veganos encontrados em Israel foram produzidos em terras roubadas, dentro de assentamentos que violam o Direito Internacional.

É precisamente por isso que o professor israelense Ayel Gross escreveu que “em Tel Aviv é muito mais fácil encontrar comida livre da exploração de animais do que encontrar comida livre da opressão e do desenraizamento de outros seres humanos”. É desnecessário mencionar as implicações catastróficas dos assentamentos ilegais israelenses na vida palestina.

Portanto, antes de aplaudir uma suposta vitória dos animais em Israel, é essencial fazer uma análise crítica do contexto em que isso ocorre, para evitar cair na armadilha do “vegan washing” israelense e acabar apoiando um governo genocida que usa a luta pelos direitos animais para melhorar sua autoimagem enquanto hipocritamente continua a explorar e assassinar animais humanos. De fato, o preço moral que pagamos para desconectar a luta pelos direitos animais da luta pelos direitos humanos é reproduzir, reforçar e tornar outras opressões aceitáveis.

Nós da Liga Animal Palestina queremos chamar a atenção para o fato de que tentamos contatar o [canadense] The Buddhist Chef, um dos blogueiros veganos que visitou Israel, para convidá-lo a visitar os Territórios Palestinos durante a sua estadia em Israel, mas ele recusou o convite com uma breve resposta dizendo que estava com um cronograma muito apertado. Além disso, amigos não palestinos nos reportaram screenshots deles banidos de comentarem em sua página depois que tentaram destacar os assuntos discutidos neste artigo. Uma das pessoas proibidas foi uma mulher judia israelense que o criticou por dar suporte ao “vegan washing”.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

6 respostas

  1. “Nós podemos perdoar os árabes por matarem nossos filhos. Nós não podemos perdoá-los por forçar-nos a matar seus filhos. Nós somente teremos paz com os árabes quando eles amarem seus filhos mais do que nos odeiam” – Golda Meir

    Israel sempre!!! Am Yisrael Chai

    1. Até em suas frases de efeito quem defende a “causa palestina” peça.

      A palestina não é apenas Israel, Judá e a Samaria, mas também toda a Jordânia. A parte que Israel ocupa ali, ou seja, a parte da palestina que pode ser chamada realmente de “livre” e mínima, já que o restante está mergulhado no obscurativismo medieval árabe.

      Ainda assim quando vocês gritam palestina livre o fazem contra Israel, ou seja, querem mergulhar aquele território mínimo ocupado pelos judeus no mesmo obscurativismo árabe que já persiste em todo o oriente médio, onde mulheres não valem nada, homossexuais são desapurados e não há liberdade religiosa.

  2. A Palestinian Animal League foi criada por esquerdistas ocidentais que costumam ir para os territórios de Judá e da Samaria fingindo que se importam com causas humanitárias, mas a única coisa que lhes importa realmente é combater a única democracias do oriente médio.

    Essas pessoas não tem nada de humanitárias, pois quando a Turquia ou o Irã bombardeiam curdos elas nem se mexem. Quando a Arábia Saudita bombardeia os iemenitas elas nem ligam. Quando a Síria usa armas químicas contra seus próprios civis eles não se importam. A Venezuela pode passar com tanques em cima das pessoas que eles não protestarão. São esquerdistas hipocritas.

    A coisa mais suja que fazem e acusar Israel de vegan Washing. A mesma imbecil que começou com isso no Brasil mantém um site onde diz que veganismo é uma causa ligada à esquerda (absurdo) e promove os sem terra no mesmo site onde supostamente fala de veganismo. Ou seja, ela acusa Israel de fazer o que ela mesma faz.

    A apropriação que estes esquerdistas dizem que Israel fez da cultura e da terra da Palestina mostra o mal caratismo destas pessoas, pois antes de 1948 eram os judeus que eram chamados de palestinos. Os árabes eram chamados meramente de árabes.

    O veganismo sim foi cooptado por essa esquerda que quer a todos tornar imbecis, e ele apenas tem a perder com este tipo de artigo. Se as pessoas estudassem história artigos como este seriam publicados apenas de forma jocosa, e não como algo sério.

  3. A “Hasbara” citada neste artigo é simplesmente desconstruir a narrativa mentirosa construída pelos árabes e sustentada pela esquerda, utilizando fatos históricos.

    Mas não podendo se negar os fatos apela-se para acusações levianas e infundadas de vegan washing e outras bobagens. Quem faz isso sim está usando o veganismo para fins políticos.

  4. Parabéns Sérgio pela lucidez de sempre.
    Acho deplorável enfiar causas politicas, partidárias e humanas dentro de um movimento que é legitimo dos animais. Esta na hora de acabar esse absurdo e trazermos o veganismo pro lugar dele novamente, quando conseguiamos mesmo q devagar as coisas pelos animais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *