Pondé falha ao atacar veganos

Desde 2017, Luiz Felipe Pondé tem atacado os veganos, o que, intrigante ou não, coincide com o período em que o veganismo começou a atingir maiores índices de crescimento no Brasil, segundo algumas pesquisas.

Sua mais recente “crítica” foi feita na quinta-feira (11) no programa “Linhas Cruzadas”, da TV Cultura, em que definiu os veganos como pessoas que acreditam no veganismo como “um marcador de pureza”.

Admito que não fiquei surpreso com essa colocação, mas, como trata-se de alguém que tem criticado o veganismo há alguns anos, imaginei que ele tivesse aperfeiçoado sua percepção e discurso de lá pra cá, mas infelizmente isso não aconteceu.

Definir o veganismo como crença, o que na minha opinião é um equívoco, já que imperativo moral não é crença, não me surpreende tanto porque pode ser uma colocação sem efeito pejorativo dependendo do que se quer transmitir.

Porém, “marcador de pureza” não tem relação com o veganismo, já que ser vegano não é acreditar no alcance de qualquer tipo de pureza, até porque nem mesmo é sobre nós, mas sim sobre os outros – no caso, não humanos.

Como pessoas, somos falhos, e sempre seremos, e qualquer associação do veganismo com pretensa superioridade também é equivocada, já que o veganismo existe em oposição ao mal que causamos às outras espécies por acreditarmos em uma “superioridade que nos permite subjugar os mais vulneráveis”.

Qualquer breve pesquisa sobre o veganismo também deixa claro que ser vegano não significa “retirar-se completamente da cadeia de violência”, que também é colocação bastante usada por Pondé para atacar o veganismo.

Pense sobre o sistema e sociedade em que vivemos, e fica fácil reconhecer que não temos controle sobre tudo, mas temos sobre aquilo que consumimos por escolha, ao entendermos quando essa escolha pondera sobre a “não escolha” a que submetemos outros animais – vítimas de condicionamento, exploração, violência e morte.

Pondé alega que suas afirmações são baseadas em pesquisa histórica, mas comete outro erro grosseiro quando faz colocações em que mistura veganismo com vegetarianismo místico e com questões de higienismo do século 19 e princípio do século 20. Isso não apenas desinforma como não faz sentido.

O veganismo é basicamente uma forma honesta de respeito pelos animais e tem como premissa o reconhecimento dos não humanos que exploramos como sujeitos de direitos, por entender que podemos viver bem sem tomar parte nessa subjugação. E isso tem parecido mais claro para um número crescente de pessoas que reconhecem a importância de ser vegano.

Veganismo é sobre justiça, sobre ampliar nosso círculo moral, e nada disso remete a algo que seja impossível, impraticável, utópico ou “purista”. Se podemos ter uma vida saudável sem consumir alimentos e outros produtos de origem animal, se podemos ser saudáveis sem tomar parte em outros tipos de violência contra os animais, por que isso deve ser combatido ou tratado com ojeriza ou deboche?

É ridículo querer que sejamos mais empáticos com outras espécies quando isso é possível? É ridículo defender que podemos beneficiar o planeta por meio de um consumo mais consciente? Pondé, o veganismo não é o que você acha, mas sim o que é. Você pode ter sua opinião, claro, mas sem amparo da realidade não há validade.

É importante entender o veganismo sem tentar distorcê-lo. Não vejo problema em críticas aos veganos, desde que bem fundamentadas, já que veganos não são perfeitos e nunca serão, mas não acho justo querer fazer o veganismo parecer o que não é.

Desde a década de 1940, veganos já preconizavam o veganismo como fazer o possível para não contribuirmos com uma cadeia de consumo amparada na violência, o que não significa, como você tenta fazer parecer, que veganos acreditam que podem ser perfeitos, puros ou pessoas que acreditam que “estão fora da cadeia de violência”.

Afinal, só de estarmos no mundo já estamos gerando impacto, já que viver é impactar. Porém, por que não tentar transformar o mundo em um lugar melhor não apenas para nós, mas também para outras espécies?

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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