Por que não abdicar do mal que causamos aos animais?

Foto: AE

Alguns dizem que os animais que exploramos sabem quando vão morrer. Outros dizem que eles não sabem quando vão morrer. Prefiro refletir sobre outro ponto. É determinante que um animal saiba ou não que vai morrer?

Não é suficiente sabermos que ele será morto? Embora relevante, não vejo o aprofundar-se na consciência e autoconsciência desses animais como imperativos para contestar a morte não humana, e por razões bem simples – matá-los é arbitrário e desnecessário, e ter vida com senciência é justificável a essa compreensão.

Se digo que animais não devem morrer porque têm consciência da iminência da morte, na ausência dessa percepção eles podem ser mortos? Podemos sempre olhar para o óbvio da violência que prospera diante das vulnerabilidades não humanas que também resultam de um antigo e contínuo processo de controle e domesticidade.

Se financiamos a morte de tantos animais, por que não apenas ter a responsabilidade moral de refletir sobre a implicação dessa experiência para o animal? Do que depende a morte e no que resulta para uma vida que não a minha, mas que é destruída pelo que posso chamar, por conveniência, de razões?

Não é preciso especular sobre questões controversas. Se olhamos com atenção por alguns minutos para um animal criado para ser morto, quem dirá que esse animal deseja a própria morte? Alguém pode responder que tampouco nessa situação ele a rejeita, porque não é “equipado” com a capacidade humana de pensar sobre o futuro, que é enviá-lo para a morte.

E voltamos à questão anterior, de transferir ao animal uma responsabilidade de reconhecimento sobre o que ocorrerá com ele, como se rejeitar sua condição e fim dependesse dessa consideração em relação à sua percepção não humana.

Reafirmo que não precisamos perscrutar a consciência não humana para determinar o que é errado ou não nas nossas atitudes em relação aos outros animais. Eles não precisam antever ou identificar os danos que causamos a eles, para que assim sejam reconhecidos como danos. Precisamos apenas compreendê-los como males evitáveis e, inevitavelmente sendo, que justificativa pode ser digna para não rejeitá-los?

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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