Por que não somos carnívoros?

Graham discorre sobre características que vão desde as fórmulas dentárias à tolerância à gordura (Foto: Divulgação)

Em 2006, o escritor estadunidense Douglas N. Graham publicou a primeira edição do livro “The 80/10/10 Diet”, lançado no Brasil com o título “A Dieta 80/10/10: Balanceando sua saúde, seu peso e sua vida, a cada doce mordida”. Em um dos capítulos, ele apresenta argumentos que explicam por que é um grande engano muitas pessoas acreditarem que são carnívoras. Para endossar seu posicionamento, Graham, ex-atleta e defensor do crudivorismo, discorre sobre características que vão desde as fórmulas dentárias à tolerância à gordura:

Fórmulas dentárias: Há um sistema chamado de “fórmula dentária” para descrever a disposição dos dentes em cada quadrante da mandíbula da boca de um animal. Isso se refere ao número de incisivos, caninos e molares em cada um dos quatro quadrantes. Começando do centro e movendo-se para fora, nossa fórmula é a da maioria dos antropoides – 2/1/5. A fórmula dentária carnívora é 3/1/5 a 8.

Dentes: Os molares de um carnívoro são pontudos e afiados. Os nossos são primariamente retos, para triturar os alimentos. Nossos dentes caninos não espelham nenhuma semelhança com verdadeiras presas. Nem temos uma boca cheia deles, como um verdadeiro carnívoro tem.

Tamanho do fígado: Carnívoros têm fígados maiores e proporcionais ao seu tamanho corporal se comparados aos dos humanos.

Andar: Nós temos duas mãos e pés e andamos eretos. Todos os carnívoros têm quatro patas e fazem sua locomoção usando as quatro.

Língua: Apenas os verdadeiros animais carnívoros têm línguas grossas (ásperas). Todas as outras criaturas têm línguas suaves.

Garras: Nossa falta de garras para rasgar a pele e a carne torna esta tarefa extremamente difícil. Possuímos unhas retas e muito mais fracas em vez de garras.

Polegares opostos: Nossos polegares opostos nos fazem extremamente equipados para coletar uma refeição de frutas em questão de poucos segundos. A maioria das pessoas faz o processo sem esforço algum. Tudo o que temos a fazer é pegar. As garras dos carnívoros permitem que eles agarrem suas presas em questões de segundos também. Não podemos pegar ou rasgar a pele ou a carne de um veado ou de um urso, mais do que um leão poderia pegar mangas ou bananas.

Nascimento: Humanos dão à luz a uma criança de cada vez. Carnívoros normalmente dão à luz a ninhadas.

Formação do cólon: Nossos cólons enrolados são bem diferentes em formação se comparado aos suaves cólons dos animais carnívoros.

Glândulas mamárias: as tetas múltiplas no abdômen dos carnívoros não coincidem com o par de glândulas mamárias no peito dos humanos.

Trato intestinal: nossos tratos intestinais medem aproximadamente doze vezes o comprimento de nossos torsos (em torno de nove metros). Isso permite a absorção de açucares e outros nutrientes que provêm da água das frutas. Em oposição, o trato digestivo dos carnívoros é apenas três vezes o comprimento do seu torso. Isso é necessário para evitar o apodrecimento e decomposição da carne dentro do animal. O carnívoro depende de secreções altamente ácidas para facilitar a rápida digestão e absorção em seu tubo bem curto. Ainda assim, a putrefação de proteínas e as gorduras rançosas são evidentes em suas fezes.

Tolerância a micróbios: A maioria dos carnívoros pode digerir micróbios que seriam mortais para os humanos, tais como os que causam botulismo.

Sono: Humanos passam em média dois terços de cada ciclo de 24 horas acordados. Carnívoros tipicamente dormem e descansam de 18 a 20 horas por dia e algumas vezes mais.

Perspiração: Humanos suam através dos poros pelo corpo inteiro. Carnívoros suam através das suas línguas apenas.

Visão: Nosso sentido da visão responde a todo o espectro de cores, tornando assim possível nossa distinção entre frutas maduras e não maduras à distância. Carnívoros tipicamente não veem todos os aspectos de cores.

Tamanho da refeição: Frutas são do tamanho certo da nossa necessidade alimentícia. Cabem na nossa mão. Uma porção de fruta é o suficiente para uma refeição, não causando desperdício. Carnívoros normalmente comem o animal inteiro quando eles o matam.

Hidratação: Se precisamos beber água, podemos sugar com nossos lábios, mas não podemos empurrá-la para dentro. As línguas dos carnívoros são protuberantes para fora a fim de poderem jogá-la para dentro, quando precisam beber.

Placenta: Temos uma placenta em forma de disco, enquanto os carnívoros têm uma placenta zonária.

Vitamina C: Carnívoros produzem a sua própria vitamina C, enquanto para nós a vitamina C é um nutriente essencial que precisamos obter por meio da nossa própria comida.

Movimento da mandíbula: Nossa habilidade de moer nossos alimentos é exclusiva dos herbívoros. Carnívoros não possuem o movimento lateral de suas mandíbulas.

Tolerância à gordura: Nós não conseguimos lidar com mais do que pequenas quantidades de gordura também. Carnívoros prosperam em uma dieta hiperlipídica.

Saliva e pH da urina: Todas as criaturas que se alimentam de vegetais (incluindo humanos saudáveis) mantêm a saliva e a urina alcalina a maior parte do tempo. A saliva e a urina dos animais carnívoros, entretanto, é ácida.

PH da dieta: Carnívoros prosperam em uma dieta de alimentos acidificantes, enquanto tal dieta para humanos seria mortal, abrindo caminho para uma grande variedade de doenças. Nossos alimentos prediletos são alcalinizantes.

PH ácido do estômago: O nível do pH dos ácidos clorídricos que os humanos produzem no estômago geralmente varia entre 3 a 4 vezes ou mais, mas pode chegar a 2 (0 = mais ácido, 7 = neutro, 14 = mais alcalino). O nível do ácido estomacal de gatos e outros carnívoros pode chegar a 1, mas normalmente fica em 2. Por causa da escala do pH ser logarítmica, isso significa que o ácido estomacal de um carnívoro pode ser 10 vezes mais forte do que o de um humano e pode chegar a ser 100 vezes ou até mesmo 1000 vezes mais forte.

Uricase: Carnívoros verdadeiros secretam uma enzima chamada uricase para metabolizar o ácido úrico da carne. Não secretamos essa substância e precisamos neutralizar esse forte ácido com nossos minerais alcalinos, primeiramente o cálcio. O  resultado deste cálcio forma pedras nos rins e é um dos muitos patogênicos do consumo de carne, nesse caso criando ou contribuindo para a gota, artrite, reumatismo e bursite.

Enzimas digestivas: Nossas enzimas digestivas são feitas para facilitar principalmente a digestão de alimentos vegetais. Produzimos a amilase pancreática – também conhecida como “amilase salivar” – para iniciar a digestão de frutas. Animais comedores de carne não produzem esta enzima e têm níveis de enzimas digestivas completamente diferentes das nossas.

Metabolismo do açúcar: A glucose e a frutose nas frutas abastecem nossas células sem forçar nosso pâncreas (a não ser que tivéssemos uma dieta hiperlipídica). Carnívoros não lidam com açucares facilmente. Eles são propensos a diabetes, se comerem uma dieta predominante de frutas.

Flora intestinal: Humanos têm colônias de bactérias (flora) vivendo em seus intestinos, diferentes daquelas encontradas nos animais carnívoros. Aquelas que são similares, tais como lactobacilus e a Escherichia coli, são encontradas em diferentes quantidades em intestinos de herbívoros, não de carnívoros.

Apetite natural: Nossa boca saliva com a visão e o cheiro das frutas. Mas o cheiro de animais geralmente nos dá náuseas. A boca dos carnívoros saliva ao ver a presa, e eles reagem ao cheiro dos animais como se sentissem a comida.





Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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