Primeiros passos para quem quer ser vegano

Pense nos animais que beneficiamos quando nos tornamos veganos (Foto: Aitor Garmendia/Tras Los Muros)

Muitas pessoas dizem que gostariam de se tornar veganas, mas afirmam que não sabem por onde começar. O primeiro passo mais importante é abraçar o veganismo com a motivação certa.

Quando você diz que quer tentar ser vegano como se fosse um processo experimental, mas já pensando que pode tanto dar certo quanto errado, você já está considerando obstáculos demais.

Se outras pessoas são veganas, por que eu não posso?

O processo de transição para o veganismo deve partir da seguinte reflexão: “Se outras pessoas são veganas e vivem bem em conformidade com o veganismo, por que eu não posso?” Ora, claro que você pode, acredite nisso e não se deixe esmorecer.

“Mas o que posso fazer?” As dúvidas mais comuns sobre a transição envolvem preocupações como: “O que vou comer?”, “Onde vou encontrar produtos não testados em animais?”, “Quais produtos não têm nada de origem animal?”, “E se as pessoas me oferecerem comida não vegana?” ou “E se eu tiver uma recaída?”

Além disso, há pessoas que dizem que não sabem como reagir quando confrontadas sobre sua decisão – não por não acreditarem no que estão fazendo, mas por insegurança em relação ao que dirão e como os outros reagirão.

Bom, sobre o que comer, você pode consumir tudo que não é de origem animal, que, sem dúvida, vai te surpreender pela diversidade e fazer você se perguntar como nunca tinha percebido como esse universo é tão rico e oferece tantas opções.

Veganismo é possível para todos  

Isso é comum quando nossos hábitos alimentares estão condicionados de tal forma que passamos muitos anos de nossas vidas comendo as mesmas coisas – e mais por força de hábito do que falta de dinheiro. Até porque ser vegano te estimula a conhecer melhor os vegetais, quais as opções mais viáveis ao nosso bolso e onde podemos encontrar boa oferta desses alimentos e a preços mais acessíveis.

Não importa onde você more, sempre haverá alguns lugares onde você pode encontrar alimentos que caibam no seu orçamento. Mas isso também depende do seu esforço e interesse em encontrá-los. Sabemos que os carboidratos são mais baratos, e aqueles que você já consumia antes de se tornar vegano, a não ser que sejam nocivos à saúde, podem continuar sendo consumidos. Afinal, carboidratos são essencialmente de origem vegetal.

Ou seja, você não precisa investir em opções industrializadas de produtos ricos em carboidratos apenas porque trazem um rótulo vegano – a não ser que você queira. Outra sugestão é procurar pelos alimentos de origem vegetal com maior percentual de proteínas e que se adequem à sua realidade econômica. Você não precisa apelar aos alimentos enriquecidos. Basta fazer uma rápida pesquisa por tabelas (certifique-se de que são confiáveis) que apontam quais são esses alimentos que fornecem maior teor de proteínas, aminoácidos, vitaminas e minerais.

E se eu ganhar muita gordura?

Se está precisando moderar nos carboidratos e tem a preocupação de “ganhar muita gordura em uma dieta sem alimentos de origem animal” porque disseram que a “alimentação de um vegano é rica em carboidratos”, você pode não apenas maneirar no consumo de carboidratos (buscando alimentos que contêm menor quantidade em sua composição – aqui também vale a sugestão de procurar tabelas na internet que mostram quais têm menor concentração) como priorizar aqueles que têm baixo ou médio índice glicêmico.

Assim você evita picos de insulina e leva para o seu organismo um alimento com um processo mais vantajoso de absorção – que não se converte rapidamente em glicose, ou seja, em açúcar no sangue. Nesse caso, alimentos integrais e ricos em fibras acabam sendo a melhor pedida. Afinal, fornecem um melhor perfil nutricional. Imagino que você deva conhecer algumas boas opções desses alimentos, e se não conhece, uma rápida pesquisa te dará uma luz.

Para ser um vegano saudável, você não precisa de muito dinheiro

Percebeu como não é difícil? Eu, por exemplo, notei mais facilidade em reduzir o percentual de gordura quando me tornei vegano. Para ser saudável, você não precisa de muito dinheiro, mas sim de informações, de interesse em pesquisar um pouquinho e buscar referências que possam te auxiliar. Tenha em mente que você sempre terá condições de seguir uma boa dieta sem alimentos de origem animal e que não extrapole o seu orçamento.

Além disso, quando um alimento sofre alguma alta no preço por fatores diversos, você sempre pode pesquisar por uma opção com perfil nutricional próximo ou equivalente, mas com custo menor. Mais uma vez, a internet pode te ajudar nisso. Tenha em mente também que essas sugestões não substituem o auxílio de um profissional da área de nutrição vegana.

Mas e as vitaminas e os sais minerais?

“Mas e as vitaminas e os sais minerais? Tenho medo de ficar anêmico ou contrair alguma doença.” Bom, a única vitamina à qual muitas pessoas não têm acesso a partir de fontes naturais é a vitamina B12 (gerada por bactérias), todas as outras essenciais podemos encontrar em uma alimentação vegana, assim como os sais minerais. Já a vitamina D, também muitas vezes negligenciada por quem não é vegano, pode ser obtida tomando sol. “Então o que fazer no caso da B12?”

O primeiro passo é saber se há algum tipo de deficiência nesse aspecto. Pra isso, é imprescindível realizar exames, o que você consegue até mesmo por requisição com um clínico geral do Sistema Único de Saúde (SUS), explicando que sua intenção é fazer uma bateria de exames para avaliar sua saúde, se está com algum tipo de deficiência nutricional.

Embora haja variáveis, a análise ao soro sanguíneo é a mais comum para verificar os valores totais de vitamina B12 no sangue. Dependendo do caso, também são recomendados os exames de holotranscobalamina, homocisteína e urinálise, mas o primeiro é o mais comum e acessível referencial.

Se tiver dúvidas, você pode pesquisar pelos vídeos do médico nutrólogo Eric Slywitch, da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), disponíveis no YouTube, e também participar do grupo “B12 na Dieta Vegetariana” no Facebook. Tenha em mente que o auxílio profissional é importante para que você saiba se é preciso suplementar e qual é a dose indicada para o seu caso com base nos seus exames.

Como encontrar produtos para veganos?

Quanto aos produtos para veganos, muitas vezes quem está em transição pergunta quais são os produtos testados em animais. Infelizmente, muitos, embora a realidade esteja mudando. Por isso ainda é mais fácil você buscar saber quais são os produtos não testados em animais e quais marcas são mais confiáveis e transparentes.

É importante também ter a preocupação de ler os rótulos dos produtos e tentar entender, na medida do possível, quais são aqueles ingredientes pouco conhecidos que não sabemos de onde vieram. “Seria de origem animal ou vegetal?” Em caso de dúvida, não hesite em buscar informações de fontes confiáveis. Além disso, você sempre pode entrar em contato com o serviço de atendimento ao consumidor (SAC), já que eles têm obrigação em fornecer esse tipo de informação, conforme determinado pelo Código de Defesa do Consumidor.

Quanto mais informações, melhor 

Se você não tem tempo ou fica com preguiça só de pensar em ler rótulos ou buscar uma confirmação de testes em animais, se aproxime de quem já está acostumado a fazer isso. No entanto, é importante não ignorar também que nenhuma lista de produtos indicados para veganos trará todas as informações que precisamos, e não por negligência de quem a criou, mas porque existem tantas empresas lançando produtos no mercado a cada dia que se torna impossível identificar todas e todos os seus produtos indicados para quem visa uma relação mais ética de consumo.

Pense nas pequenas empresas do interior do país, por exemplo, que não têm alcance nacional. Provavelmente, muitas delas parecem não ter produtos recomendados para veganos apenas porque nenhum vegano decidiu mostrar que elas também oferecem opções veganas. Listas não significam que aqueles são todos os produtos indicados para veganos, mas sim que são sugestões que quem as criou conseguiu obter com sua dedicação em pesquisar de forma voluntária.

E se alguém me oferecer comida não vegana?

Para quem está começando no veganismo pode ser desconfortável passar por uma situação em que alguém te oferece comida não vegana, você recusa e a pessoa te questiona sobre o motivo. Bom, aqui vale uma inverdade ou uma sinceridade. Isso, claro, depende da sua personalidade e com quem você está falando.

Se você não vê problema em se posicionar ativamente como vegano, pode deixar isso bem claro, até porque você não é obrigado a se alimentar de animais, e se está nessa jornada por uma clara e bem definida motivação ética, com certeza não se sentiria bem recuando nesse momento.

No entanto, considerando o contexto em que vivemos, do consumo cultural de alimentos de origem animal, uma negativa educada, sem dúvida, é a resposta mais adequada, por mais que antagonizemos esse consumo. Até porque não ajuda em nada favorecer uma negativa indisposição do questionador em relação a veganos, e é isso que conseguimos quando agimos de outra forma.

E se houver provocação?

A minha consciência enquanto vegano não é a consciência do outro que não é; e se queremos aproximá-lo da nossa consciência, não é agindo de forma pouco polida que conseguiremos isso. Até porque aqui vale o clichê de que “gentileza gera gentileza”, e assim há mais chances do interlocutor se predispor a saber algo sobre a realidade de quem vive o veganismo.

Mas, claro, alguém de repente pode passar por uma situação ruim, em que já sabe que pode ter uma reação ruim à resposta. Nesse caso, se houver provocação, subverta as expectativas não reagindo como o outro espera. Isso o deixará reticente sobre suas próprias atitudes, ainda que não deixe isso claro.

Ou você pode simplesmente dizer que comeu antes de sair de casa, o que também é uma realidade comum quando somos veganos e vamos a algum lugar onde sabemos que a comida é preparada para não veganos. Fica a seu critério.

E se eu tiver uma recaída?

Algumas pessoas em transição para o veganismo também relatam recaídas ou predisposição a recaídas. Isso acontece quando ainda deixamos o paladar ter algum poder sobre nós, quando não fortalecemos fundamentalmente nossa posição em relação à rejeição ao consumo de alimentos de origem animal.

“E o que pode ser feito para evitar isso?” Uma mudança de atitude, até porque se começarmos a acumular recaídas, há sempre o risco de não chegarmos a concluir a transição. No entanto, este não é o fim do mundo. As pessoas não são iguais, e suas mudanças acontecem em níveis variáveis.

Se você tiver uma recaída, pergunte-se: “Por que estou fazendo isso? Se não concordo com a exploração de animais, por que estou me alimentando deles?”, “O que posso fazer para que isso não se repita?” Seu paladar não é maior do que você. Por mais que nosso paladar pareça imutável, não é e nunca será.

Fortaleça sua decisão de ser vegano

O ser humano sempre tem condições de mudar se entender que tem o controle sobre suas predileções de consumo, e todas são transitórias com a motivação certa. Outra forma de evitar recaídas é se aprofundar na origem do produto que você está consumindo.

Por exemplo, uma pessoa que diz que comeu queijo uma vez ou outra desde que decidiu se tornar vegana pode buscar alternativas de queijos vegetais, assistir vídeos e ler textos que falam especificamente da exploração do gado leiteiro. Quanto mais informações você recebe sobre o assunto, mais você ganha consciência sobre sua responsabilidade enquanto consumidor. Buscar por alternativas de queijos vegetais também pode contribuir.

Ser vegano pode parecer difícil para quem ainda não é, mas logo você percebe que isso está longe de ser verdade. O mais importante é ter força de vontade. Se você quer, você consegue.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

2 respostas

  1. Muito bom o artigo. Parabéns. Depois que a pessoa desabitua de comer carnes e derivados, com o tempo realmente não sente falta. Tem caridades enormes de comida vegetariana e veganas hj.

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