Produtos de origem animal são à base de violência

Foto: Aitor Garmendia/Tras Los Muros

Não seria inadequado que produtos de origem animal trouxessem uma frase sucinta como “À base de violência”. Você pode discordar de mim e não reconhecer que matar um animal ou submetê-lo a um sistema de exploração seja violência, mas isso significa que não seja violência?

Quando falo em violência, penso não somente na morte do animal, no corpo pendurado de ponta-cabeça após a degola, que é etapa comum da obtenção de carne, logo parte de um corpo sem vida, mas também nas violências mais desassistidas que envolvem uma série de supressões a partir do nascimento.

Um animal é submetido a várias mudanças físicas no processo de produtificação – marcações, mutilações, estranhas e mecânicas adições. Penduram e fixam coisas incômodas em seu corpo – e forçam habituação. Pensemos também nas separações, nas desconexões e dissociações sociais; na ausência de contato com um ambiente saudável que não pareça uma malcheirosa plataforma de produção.

Então alguém rebate que ninguém pode dizer que pelo menos o gado no pasto não tem “boa vida”. Mas esse gado não tem prazo de validade determinado pelo mercado? É livre de marcações, mutilações? O que é a terminação que não uma engorda-preparação para a morte? Há morte sem violência quando se é classificado como produto a ser ingerido? Animais amontoados em viagens a caminho do matadouro inspiram quantas coisas boas? O que representa uma lâmina invadindo um corpo?

Acredito que estar no mundo como vítima de um sistema de consumo já é uma forma de violência, porque os limites de sua vida são determinados pelo seu valor de produção/consumo – assim o que importa é o outro que detém a posse do seu corpo e vida; e você desaparece pelo que o outro, que também é coletivo e estende-se por cadeias, classifica como benefício.

O engrandecimento do suposto benefício é a evidenciação de sua inversão, que é sua forçada pequenez. Na minha opinião, um animal que cresce para ser alvo de consumo é, na realidade, um animal que desaparece; porque quanto mais próximo chega do ápice da produtificação, mais próximo está da completa ausência de si mesmo.

 

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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