Quando o pai decidiu livrar-se do porco

Ouviu quando o pai disse que era preciso livrar-se do porco. “Muito grande, tão grande que assim não pode continuar. E ele pode encolher? Não pode. Então é isso.”

Ao correr para a pocilga improvisada onde o porco dormia, já não estava lá. Não o encontrou em lugar nenhum. Dentro de casa, silêncio sobre o destino não humano.

O menino perguntou, perguntou e perguntou, e o combinado era dizer, se muito insistente, que foi-se para outro lugar onde seria muito bem recebido.

Ficou triste. Julgou que talvez não devesse, porque se havia um lugar melhor para o porco, por que pensar apenas na ausência que seria sentida por ele, que não é o porco?

E as vontades do suíno? E se já não quisesse estar ali? E se prescindia de tudo que ali existia, e que era limitante demais para sua vida não humana?

Refletiu sobre o espaço pequeno que não parecia pequeno. Mas como conter o desgosto da incerteza? Como não sentir falta do porco com quem interagiu todos os dias por meses?

“Queria apenas um sinal, Radião…Se você está bem, por que não me deixam saber onde? Não posso te ver? Que há de errado nisso?”

No final de semana, reuniram toda a família para um jantar especialíssimo, servindo costelinha, bisteca, lombo, pernil, medalhão e mais. O menino não tinha fome e pensava no porco, tão perto e tão distante dele.

“Espero que você esteja bem, Radião. Mas como posso não dizer que sei que não? Fico confuso…e não sei o que poderia dizer. Acho que devo apenas não dizer. É melhor assim. Durma bem, onde você estiver. E como posso saber? É, não sei mesmo. Queria que alguém me falasse…”

Demorou para dormir e, quando conseguiu, viu o porco correndo e depois rolando num pedaço de grama. “Você gosta, né?” Radião refrescou-se numa porção de lama, onde submergia e emergia.

Em seu sonho, ele apequenava-se. Radião queria decrescer, e decresceu, para não desaparecer.

 

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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