Quem quer ser um boi enviado para morrer?

A passagem para a morte é estreita e enganosa. Talvez alguém pense que seja referência arrevesada. Não é nada disso. É sobre um dos espaços de violação da vida pelos desejos irrefletidos ou não de morte.

Sim, do boi, que não tem espaço pra voltar nem pra ver o que o aguarda. É um labirinto guiado para bovinos. Como seria se o primeiro agitasse os outros? Vão em fila com número preto ou branco no lombo.

De que adiantaria? Não há espaço de fuga. Talvez eles se espremessem e caíssem sentindo o corpo quente um do outro antes de morrer. É pior do que tiro e degola? Por quê?

Olhando a oscilação de cores na parede, azul estranho e ferrugem, penso em como os animais são corroídos pela vontade humana, os corpos vão desparecendo e tudo vai se desfazendo.

Tem cano de ferro descascado e encardido pressionando seus corpos. Quantos? Depende do dia. Já falaram que é como se fosse marcação de engorda.

Quando não vejo mais nenhum, a cor de ferrugem desaparece e sinto o cheiro, que é de sangue e de ferrugem. Então sei que já não estão aqui.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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