Quem vê a dor dos frangos?

Foto: Andrew Skowron

Uma família viu um caminhão que transportava frangos tombado na rodovia. Muitas aves presas às caixas espalharam-se por grande porção de mato ao lado do acostamento. Dois homens, além do motorista, tentavam separar os animais vivos dos mortos.

No carro, as crianças ficaram impressionadas e a mãe pediu que não olhassem. Havia sangue e penas voando pelo asfalto, formando pequena cortina que oscilava de tamanho até encostar no chão e terminar em dispersão.

“Que tristeza. Pobres animais”, disse o pai. “É muito triste mesmo. Que fim sofrido desses coitadinhos”, emendou a mãe antes de lacrimejar e enxugar o rosto com um lenço.

As crianças perguntaram para onde aqueles animais estavam indo. “Não sei. Talvez para algum sítio ou fazenda.” “Eles têm família? Morreram? Onde vão enterrar?” “Não sabemos. Quem sabe?”

Um dos garotos quis descer para perguntar, mas foi repreendido. “Não! Que isso? Não pode chegar perto. A gente precisa ficar aqui. Se formos lá, vamos acabar atrapalhando o trabalho deles.”

“Não é bom ter mais gente pra ajudar quem ainda tá vivo? Não tem frango vivo?” “A gente não entende como funciona, então só iríamos atrapalhar”, insistiu o pai.

Após a liberação do trânsito, as crianças continuavam olhando pelo vidro traseiro o caminhão tombado, as penas e os frangos – entre vidas e sem vidas.

Quando chegaram em casa, já era hora do jantar. Não demorou e o pai os chamou. “Quem vai querer um filezinho?”, disse o homem, exibindo com orgulho seu frango grelhado. “Eu quero!”, respondeu a mãe. “O filezinho vem de onde?”, perguntaram.

 

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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