Sangue dos animais nunca deixa de ser derramado

Sangue dos animais nunca deixa de ser derramado. Não importa se é manhã, tarde ou noite. E de madrugada? Sangue deve descer. Não é sobre acidente ou fatalidade, é sobre vontade. Até quem não suporta ver sangue deseja o derramamento de sangue.

Carne é sangue, sangue violado. É degola, é corpo despedaçado e fatiado. Um corpo grande, 20 litros. Descido como líquido qualquer. Existe apenas pra ser arrancado do corpo? Subproduto? Chamam assim. Uma porção escorre pelo chão.

Deixa marcas que se apagam e ressurgem. Sangue no chão faz o piso parecer que tem ferida. Dor não humana se espalhando, transitando do corpo morto para o espaço. Tem furos de disparos, cortes irregulares. Jogam água pra espalhar o sangue.

É pra afastar o sangue. É como se dissessem pra ir embora. Falam que escapou e que sujou. Do desejado ao indesejado. A água esparsa o sangue, que lembra a vida, que evoca a morte. Nunca sai tudo. É só olhar direito. E se sai, logo volta. Não para.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *