Somos uma ameaça para outros animais?

Tem repercutido a história de turistas que participavam de um safari na Zâmbia e o veículo em que estavam foi tombado por um elefante, o que resultou na morte de uma idosa dos EUA e em mais cinco pessoas feridas.

Achei interessante o que o filho da mulher falecida disse, que não faz sentido culpar o elefante pela morte de sua mãe. Isso é um alento em relação a uma consciência em que o animal não é visto como um problema, o que seria não só um equívoco como uma contradição. E ele tem razão, porque a reação do animal foi de afastar o veículo, e como reação a um incômodo.

Não é difícil concluir também que para o animal, sendo territorial, aquele espaço é o seu habitat, e que quem vem de fora pode ser percebido como invasor, mesmo em lugares onde acredita-se que os “animais estão acostumados com isso”.

Ninguém pode prever o que pode acontecer o tempo todo. Acreditar nisso seria atribuir uma mecanicidade à resposta emocional desses animais. Os sinais apresentados pelo elefante nessa ação estão sendo associados também ao estresse.

Quando o filho da idosa falecida diz que “sua mãe seria a primeira a entender que isso poderia acontecer”, há um reconhecimento também do que não pode ser reduzido a uma previsibilidade, já que isso reflete também o que é diverso e mutável sobre a reação desses animais não humanos.

O animal age como é, e não se pode dizer que sua atitude deva ser reprovada, se o espaço, para ele, é o seu espaço. No entanto o que preocupa é que quando uma área é explorada economicamente, e há uma alta exposição à presença humana, mesmo que seja uma área de ocupação natural de animais silvestres, há animais que podem ser mortos ou removidos de seus próprios espaços para que não sejam uma ameaça à obtenção de lucro.

Basta considerar a quantidade de animais que são executados todos os anos quando o viver deles é colocado abaixo de outros interesses, e quando a ameaça surge, em primeiro lugar, com o interesse humano.

O que chama a atenção também é a forma como algumas manchetes sobre o assunto são criadas por alguns veículos. Há uma falta de cuidado que pode levar a uma interpretação de que o problema é o elefante.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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