Tem morte por trás do ovo

A primeira vez que vi um pintinho sendo arremessado no processo de “seleção” de “viver” ou “morrer”, perguntei-me o que ele era numa percepção múltipla. Veio uma ideia imperativa do indefinido, porque eu o via de uma forma, quem o arremessava via de outra e há ainda outras.

A mecanicidade determina a velocidade da separação, da distanciação, do morrer hoje ou daqui a pouco. Posso dizer que a mão que o lançava era só uma mão, mas por trás dela há tantas outras, de processos reconhecidos ou não.

Quantas caixas de ovos garantem o volume de vidas perdidas? Esfregam-se e morrem. Não, são morridos. A quietude e a não resistência são reforços de gravidade. Haveria não gravidade de outra forma?

De repente, vai-se a inocência. De repente, não. Os pés minúsculos que nunca ciscarão tocam pedaços de lata, aço e metal. Olham-se, não olham-se e deixam de estar. Chegam outros.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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