Twyla Francois retrata a dor dos animais na agropecuária

“Me perguntei se a arte com sua capacidade de ser mais suave, mas igualmente eficaz, poderia ser o caminho para alcançar essas pessoas. Comecei, gradualmente, a soltar minhas pinturas e a resposta foi animadora” (Pinturas: Twyla Francois)

Twyla Francois cresceu em uma comunidade agrícola no Canadá e na infância começou a sentir uma conexão com os animais. Mas foi a experiência de um tratamento de quimioterapia contra o câncer, há mais de 15 anos, que a fez refletir mais profundamente sobre a realidade dos animais que objetificamos, exploramos e matamos.

“Cofundei uma pequena organização em defesa dos animais e me deparei com o horrível mundo da agropecuária industrial e imediatamente comecei a conduzir investigações para entender o que eu estava vendo. Expor a extensão dos horrores que os animais presos a esse sistema vivem tornou-se o trabalho da minha vida”, garante Twyla.

Embora suas investigações tenham surtido efeito em conscientizar as pessoas, a mudança não estava ocorrendo na proporção que a ativista desejava. Então ela tomou a decisão de mudar de estratégia, já que as pessoas evitavam o confronto com a violência gráfica encontrada em seus registros fotográficos.

“Me perguntei se a arte com sua capacidade de ser mais suave, mas igualmente eficaz, poderia ser o caminho para alcançar essas pessoas. Comecei, gradualmente, a soltar minhas pinturas e a resposta foi animadora”, relata.

Por meio da arte, ela tem desafiado as crenças básicas que perpetuam a exploração de animais, buscando promover um sentimento de compaixão por todos eles.

“Tive a sorte de dividir minha vida com vários animais de criação, incluindo Wilbur, um porco que resgatei na estrada depois de um acidente. Também salvei Tara e Avalo, cavalos destinados ao abate; Marlene e Natalie, jovens galinhas que iriam à leilão; e Sophie e Katie, dois perus fêmeas feridos e traumatizados que escaparam do abate”, diz.

Em uma de suas pinturas, Twyla Francois mostra um bezerro confinado a um caixote de madeira. Simon era um subproduto da indústria de laticínios, um bezerro criado em Quebec para a indústria de carne de vitela. “Ele estava tão fraco que não conseguia se manter em pé”, revela.

As pinturas de Twyla são um recorte sensível, mas nada romanesco da realidade, já que antecipam o destino dos animais ainda vivos. Em outra de suas obras, ela mostra um bezerro confinado que terá seu couro reduzido a tecido para sofá. O olhar do animal é inquiridor e se volta diretamente para o espectador.

A artista define em um de seus trabalhos o leite de vaca “como as lágrimas de uma mãe”, já que para que o leite seja destinado ao consumo humano é preciso separar precocemente o bezerro da vaca.

E o destino desse bezerro é apontado em outra pintura, um desdobramento dessa realidade, como o matadouro. Em crítica a esse fato, Twyla Francois incluiu no veículo que transporta um bezerro para o abate o adesivo “Bebê a bordo”, tão comum em muitos carros, e que faz referência ao fato de que vitela nada mais é do que a carne de um bebê morto. No registro, o bezerro também observa o espectador como se aguardasse um ato de empatia.

Em “We Take Care”, que mostra suínos carbonizados dentro de suas gaiolas e um homem recebendo reparação do seguro pelo prejuízo, ela sugere que para quem cria animais com fins de consumo o dinheiro pode compensar tudo, até mesmo a terrível morte de animais em incêndios.

Também digna de menção é a obra em que um bovino agonizando traz um zíper logo abaixo do pescoço. “Quem você está vestindo?”, questiona Twyla, em referência ao couro extraído do cadáver de um animal, e tão usual como principal matéria-prima de calçados, jaquetas, casacos, etc.

Parte de suas obras traz um caráter de opacidade e penumbra em relação à realidade. Há um modesto uso de cores que endossam um universo de desconsideração, onde a vida não brilha e se esvai como consequência da nossa presunção e omissão.

Conheça um pouco mais o trabalho da artista:

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Instagram: @twylafrancoisart

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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