Um animal precisa ser visto como inocente para não ser morto?

A ideia adjetivada de “animal inocente” é muito explorada com o objetivo de despertar senso de consideração em relação aos animais não humanos – como os que são mortos para consumo.

A palavra “inocente” é associada à ausência de mácula e de culpa, e assim permite constituições romanescas de reflexão. Ao dizer “animal inocente”, são pensáveis os conflitos desse uso, porque se reconheço que há animais inocentes, e usando o termo atribuo distinção, isso significa então que há animais não inocentes?

Porque se qualificássemos todos como inocentes, não precisaríamos afirmar que são inocentes. E dizemos e acreditamos que são todos inocentes? E se digo que ser um animal inocente é uma identificação/atribuição que deve demover-nos de explorar, matar e consumir um animal, então na ausência de inocência a situação não seria reprovável?

Se não pudéssemos reconhecer nos animais criaturas inocentes, eles poderiam morrer pelo uso/lucro/consumo? A ideia da inocência como virtude, do naturalmente bom que não reconhece a maldade, nos influencia também por força da moral cristã ocidental, que leva à necessidade de elevação do outro em algum sentido para estabelecer-lhe consideração.

Assim acreditamos que é necessário que exista nele qualidades a serem identificadas para que não seja submetido à exploração e sofrimento. Mas isso é necessário? É preciso reconhecer o animal como inocente ou bom para não causar-lhe mal? Destacar-lhe virtudes? Devemos ater-nos às reduções conceituais? Ou apenas a ideia de provocar um mal desnecessário deveria ser o suficiente em oposição a essa violência?

Inocência e tantos adjetivos e conceitos que usamos e que surgem sempre como referenciações humanas de um universo humano são nivelamentos em relação ao outro numa atribuição variável de reconhecimentos – como se estivéssemos colocando-os sobre uma balança.

O que é a inocência para um animal não humano? Eu poderia perguntar o mesmo sobre atribuições de bondade e maldade a não humanos. São partes de suas constituições como criaturas ou apenas palavras que ainda determinam e influenciam a percepção humana?

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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